sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Reflexão por Luciane Baratelli - Neuropediatra


Recentemente, em um grupo de médicos que participo, li um caso de uma mãe que havia sido recomendada pelo pediatra a regular o horário das mamadas e não deixar o seu bebê recém nascido tempo demais no peito, pois ele ficaria "viciado". Resultado, o bebê passou a ganhar pouco peso, e a "solução" apresentada pelo mesmo pediatra foi complementar com leite artificial. Há pouco tempo atendi um bebê saudável que não estava se desenvolvendo tão bem quanto esperado. A mãe, angustiada, havia sido aconselhada a não pegar ele muito no colo, "para não acostumar mal" e o bebê passava grande parte do tempo no berço e bebê conforto. Com um pouco de conversa e pequenos ajustes, a mãe passou a se sentir mais confiante na tarefa de cuidar. Deu colo e estímulos. E o bebê passou a se desenvolver adequadamente. 

Bebês nos seus primeiros meses de vida são extremamente dependentes. Nascem mais imaturos que qualquer outro mamífero e tem pouco controle sobre o próprio corpo. Eles não tem vontades, tem necessidades. Necessidade de colo, de leite, de carinho, de estímulos. É um período cansativo para os pais, sobretudo para a mãe, que diante de muitas opiniões muitas vezes fica insegura para seguir os próprios instintos. Mas por mais que os dias pareçam longos, essa fase passa depressa. E o vínculo formado nela ajudará muito nas fases que vem a seguir. 

Mas e os limites, não são importantes? Limites são fundamentais para que a criança tenha um bom desenvolvimento neuropsíquico. Mas devem ser aplicados quando ela começa a demandar limites! Quando começa a ter autonomia motora, mas pouco controle de suas emoções e impulsos. Fase que começa no final do primeiro ano de vida e tem seu auge no segundo. Nessa hora é preciso ser firme, orientar, e aí sim, não ceder a todas as vontades da criança (especialmente as inapropriadas). Mas tudo isso ainda pode (e deve) ser feito com carinho, colo e peito.