domingo, 18 de agosto de 2019

Crianças (parte final)

Para acompanhar uma criança e estar de corpo presente ao seu lado precisamos abdicar desta falsa ideia de controle que guia nossas vidas, nossas escolhas e nossas relações. Precisamos romper com a angústia provocada pelo relógio e pelos calendários e ponderar que, no tocante às infâncias, a ideia do controle – geralmente – liga-se à limitação de experiências fundamentais às crianças.
Correr. Ir pra natureza. Entrar em contato com outras crianças. Movimentar-se. Viver o ócio. O controle, muitas vezes, tira as crianças de seu habitat natural e esvazia, por fim, sua alma desbravadora e contemplativa. A troco de quê?

Naturalmente, pensaríamos que o oposto do controle é o descontrole, o caos, a barbárie. Mas isto seria válido somente se concebêssemos o controle como um conceito fixado à ideia do poder.
Se nos abrimos a compreender os processos que nos cercam, ou, ainda, os processos que nos constituem, poderemos, enfim, conceber ‘respeito’ como oposto à ideia de ‘controle’. Uma febre passará. Trata-se de um processo natural, com etapas que precisam ser respeitadas para que seja possível, finalmente, alcançar a cura. Uma criança precisa brincar livremente, respeitando seu tempo interior. Faz parte de sua constituição como sujeito.

Se aprendermos a respeitar o tempo e o ritmo dos processos que nos tornam humanos – ou ainda – dos processos naturais – e nos libertarmos da angústia provocada pela falsa ideia do controle, teremos chances maiores de aproveitar as tantas belezas que estão diante de nós, diariamente. Uma dessas belezas? O compromisso de uma criança com a vida. 
Carolina Prestes