"Não podemos estar totalmente despertos enquanto pensamos"
És tu que escolhes, a cada momento, ser feliz. Ou triste. Ou irado, ou pacífico, ou tolerante, ou iluminado, ou seja o que for. És tu que escolhes. Tu. E não qualquer coisa exterior a ti. E escolhes de um modo bastante arbitrário. Agora, eis o grande segredo. Podes escolher um estado de ser antes de qualquer coisa acontecer, tal como o escolhes depois de ter acontecido. Desse modo, poderás criar a tua experiência, em vez de te limitares a tê-la. De facto, é o que estás a fazer agora. A cada momento. Contudo, podes estar a fazê-lo inconscientemente. Como um sonâmbulo. Se for esse o caso, chegou a hora de despertares. Porém, não poderás estar totalmente desperto enquanto pensas.
Pensar é um outro estado de sonho. Porque aquilo em que pensas é ilusão. Não faz mal. Vives na ilusão, adoptaste a ilusão, por isso deves dedicar ao assunto alguma reflexão. Mas lembra-te: o pensamento cria a realidade - portanto, se criaste uma realidade da qual não gostas, não continues a pensá-la!
- “Nada é mau, a não ser que o pensamento o torne mau.”
Precisamente. Por isso, deixar de pensar pode ser bom, de vez em quando.
Permite-te entrar em contacto com uma realidade superior. Permite-te destruir a ilusão.
- Como é isso possível? Eu estou continuamente a pensar. Estou até a pensar sobre isto!
Antes de mais nada, fica em silêncio. A propósito, repara que Eu disse fica em silêncio, e não pensa em silêncio.
- Ah, boa tirada. Muito boa.
Muito bem. Depois de permaneceres em silêncio durante algum tempo, verás que o teu pensamento começa a "abrandar" um pouco. Começa a acalmar. Deverás então pensar sobre os teus pensamentos.
- O quê?
Faz como te digo. Começa por pensar no curso dos teus pensamentos. E a seguir, interrompe-o. Concentra-te nos teus pensamentos. Pensa naquilo em que estás a pensar, primeiro passo para te tornares Mestre;
- Meu Deus! Isto é tão confuso que sinto que estou a perder a cabeça!
Exactamente.
- Não, não queria dizer isso...
Querias, sim. Mas disseste-o sem saber. Estás realmente a "perder a cabeça", como se costuma dizer. Ou seja, estás a sair da tua própria mente. Porque é a tua mente que analisa as informações sensoriais e tu deixaste de o fazer. Deixaste de pensar sobre isso. Em vez disso, começaste a pensar nos teus próprios pensamentos. Concentraste-te nos teus pensamentos e, em breve, darás por ti a pensar em nada.
- Pensar em nada? Como é isso possível?
Primeiro tens de te concentrar em qualquer coisa. Não é possível pensar em nada sem primeiro pensar em qualquer coisa. Parte do problema é que a mente está quase sempre a pensar em diversas coisas. Está constantemente a receber dados de centenas de fontes diferentes, a analisá-los a uma velocidade superior à da luz e a fornecer-te informações sobre ti próprio e aquilo que está a acontecer à tua volta.
Para poderes concentrar-te no nada, terás de interromper todo esse ruído mental. Terás de o controlar, de o limitar e, em última análise, de o eliminar. Para chegares ao nada, tens de te concentrar em qualquer coisa em particular, e não em tudo ao mesmo tempo. Assim, concentra-te em qualquer coisa simples. Podes começar pela chama de uma vela. Olha para a vela, para a chama, observa-a, fita-a profundamente. Fica com a chama. Não penses na chama. Fica com ela. Ao fim de algum tempo, começarás a sentir as pálpebras pesadas e os olhos enevoados.
- E uma espécie de auto-hipnose?
Evita os rótulos. Vês? Lá estás tu outra vez... Estás a pensar sobre o assunto. Estás a analisá-lo, a querer dar-lhe um nome. Pensar sobre uma coisa impede-te de estares simplesmente com essa coisa. Quando fizeres o que te digo, não penses. Limita-te a acolher a experiência.
- Está bem.
Bom, no momento em que sentires vontade de fechar os olhos, fecha-os. Não penses nisso. Fecha-os apenas. Acontecerá muito naturalmente, desde que não te esforces por mantê-los abertos. Desse modo, estarás a limitar a entrada de dados sensoriais. O que é bom. Seguidamente escuta a tua respiração. Concentra-te nela. Concentra-te especialmente na tua inspiração. O facto de te escutares a ti próprio impede-te de escutares tudo o resto. É neste momento que poderão ocorrer-te grandes ideias. O exercício da inspiração tornar-te-á inspirado.
- Oh, meu Deus, lá estás Tu outra vez! Como consegues fazê-lo? De onde Te surgem essas frases?
Chiu. Está calado. Não penses! A seguir concentra a tua visão interior. A inspiração dar-te-á uma poderosa visão interior. Concentra-a a meio da testa, por cima dos olhos.
- O chamado Terceiro Olho?
Sim. Concentra aí a tua atenção. Olha profundamente. Não esperes ver nada. Olha o nada. Permanece com a escuridão. Não te esforces por ver nada. Descontrai-te e contenta-te com a paz do vazio. O vazio é bom. Toda a criação ocorre no vazio e no vazio apenas. Desfruta, pois, o vazio. Nada mais esperes, nada mais desejes.
- Mas que hei-de fazer com os pensamentos que me ocorrem? Para a maior parte das pessoas, conseguir três segundos de vazio já é uma grande vitória. Importas-Te de esclarecer melhor esta questão, especialmente para os principiantes! Os principiantes sentem-se sempre muito frustrados por não conseguirem “silenciar” a mente e alcançar o nada de que falaste. Poderá ser fácil para Ti, mas certamente não o é para a maior parte de nós.
Estás outra vez a pensar. Pedi-te que não pensasses. Se continuares a ser assaltado por pensamentos, limita-te a contemplá-los, a aceitá-los. À medida que os pensamentos surgem, distancia-te deles e regista simplesmente o facto da sua ocorrência. Não penses neles, limita-te a contemplá-los. Não penses naquilo em que pensas. Distancia-te e regista-o. Não julgues. Não te sintas frustrado. Não comeces a falar contigo próprio: "Pronto, lá estou eu outra vez! É só pensamentos! Quando conseguirei alcançar o vazio?"
Não conseguirás alcançar o vazio se continuares a lamentar-te. Quando um pensamento surgir - qualquer pensamento sobre nada de especial, alheio ao momento - limita-te a registá-lo. Aceita-o, acolhe-o e integra-o na experiência. Não o repises. Faz parte do cortejo que passa. Deixa-o passar. Faz a mesma coisa em relação aos sons e aos sentimentos. Provavelmente notarás que jamais ouviste tantos sons como nesse momento, em que estás precisamente a tentar mergulhar no silêncio absoluto. Provavelmente notarás que jamais tiveste tanta dificuldade em sentires-te confortável como nesse momento, em que procuras o maior conforto possível. Regista esses sons e sensações. Distancia-te deles e observa-te a registá-los. Inclui-os na tua experiência. Mas não os repises. Fazem parte do cortejo que passa. Deixa-os passar. E o mesmo se aplica à pergunta que acabaste de fazer. Ocorreu-te simplesmente. Foi apenas um pensamento que te atravessou o espírito. Faz parte do cortejo que passa. Deixa-a passar. Não procures resposta, não procures resolver o problema, não procures compreender. Deixa-a surgir. Deixa-a fazer parte do cortejo que passa. E deixa-a passar. Encontrarás neste exercício uma grande paz. Um grande alívio. Nada desejar, nada fazer, nada ser, à excepção daquilo que és nesse momento. Abandona-te. Aceita o momento. Mas continua a observar. Sem ansiedade, sem expectativa. Mantém uma suave vigilância. Quando não precisares de ver nada... estarás pronto para ver tudo. A primeira vez que o fizeres, ou a décima, ou talvez a centésima ou a milésima, verás algo que se assemelha a uma trémula chama azul, uma luz dançarina. Permanece com ela. Avança para ela. Se sentires que te fundes nela, deixa que aconteça. Se acontecer, nada mais terá de te ser dito.
- O que é essa chama azul, essa luz dançarina?
És tu. É o centro da tua alma. É o que te rodeia, o que se move através de ti, és tu. Saúda a tua alma. Encontraste-a finalmente. Experimentaste-a finalmente. Se te fundires nela, se te unires a ela, conhecerás uma sublime alegria à qual chamarás felicidade. Descobrirás que a essência da tua alma é a essência de Deus. Eu e tu seremos Um. Talvez por uns breves momentos apenas. Por uma fracção de segundo. Mas será o bastante. Depois disso, nada mais terá importância, nada voltará a ser o mesmo, e nada no mundo físico se comparará a essa experiência. Descobrirás então que não precisas de nada, nem de ninguém, exterior a ti.