quinta-feira, 7 de maio de 2020

Por que os dependentes químicos têm mais riscos de contágio pelo coronavírus?

A dependência química é caracterizada pelo uso descontrolado de qualquer substância psicoativa e que possa levar ao comprometimento da estabilidade mental, emocional e à alteração do comportamento. Ela pode se referir ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas, de drogas ilícitas, de medicamentos sem prescrição médica e de calmantes de natureza variada.

Os adolescentes e jovens usuários de droga se tornam muito mais vulneráveis ao contágio de diferentes enfermidades, inclusive as que compõem o grupo das doenças infecciosas e de fácil transmissão. O compartilhamento de seringas e de outros insumos utilizados para consumir drogas acentua os riscos para o desenvolvimento dessas doenças.

A dependência química faz com que o usuário dessas substâncias seja incapaz de controlar o consumo. Sob o domínio das drogas, o indivíduo também perde o controle sobre suas emoções, atitudes e seus comportamentos. Além do aumento dos conflitos familiares e dos prejuízos à saúde, esses desajustes psíquicos atrapalham as atividades de rotina e colocam em risco a vida pessoal, afetiva e profissional.

Além de todas as implicações em torno do vício em substâncias químicas, a pandemia de Covid-19 ainda traz à tona outra questão preocupante: a não obediência às orientações propostas pela vigilância sanitária, que torna o risco de contaminação bem maior entre os dependentes químicos.

Para ajudar você a compreender melhor o tema, listamos alguns fatores que mais influenciam na vulnerabilidade dos dependentes químicos ao contágio pelo novo vírus. Veja quais são eles a seguir.

Falta de atenção aos protocolos da OMS
Muitos jovens que estão dominados pelas drogas não conseguem mais ter discernimento o suficiente para definir o que é certo ou não. Isso também acontece em relação aos hábitos de higiene, o que torna mais difícil para esse grupo seguir as orientações do protocolo da Organização Mundial de Saúde (OMS) quanto à necessidade de lavar as mãos no combate à disseminação do contágio pelo coronavírus.

Compra de entorpecentes com pessoas desconhecidas
Os dependentes químicos também apresentam mais vulnerabilidade ao desenvolvimento da Covid-19 pela exposição aos riscos ambientais e sociais. Eles têm mais dificuldade em se manter confinados porque, mesmo diante das orientações da vigilância sanitária, ainda saem de casa para comprar drogas.

Nessas circunstâncias, o contato com pessoas e lugares sem cuidados sanitários eleva as chances de contaminação pelo novo vírus. Esse comportamento que leva os jovens usuários de substâncias entorpecentes a ignorar as medidas de prevenção faz com que eles estejam muito mais propensos à contaminação pelo coronavírus.

Uso de drogas com outras pessoas que podem facilitar a transmissão
Além do risco de sair de casa para comprar drogas em locais mais vulneráveis, muitos dependentes químicos também cultivam o hábito de consumir drogas em grupo. Essa exposição continuada acentua as chances de desenvolver a doença porque esse consumo “entre amigos” facilita a transmissão do coronavírus.

Como os familiares podem ajudar o dependente químico?
O novo Relatório Mundial sobre Drogas divulgado em 2019 pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) revelou que, em todo o mundo, 35 milhões de pessoas sofrem de transtornos mentais e físicos relacionados ao consumo de drogas. Desse número, apenas 1 dependente químico em cada 7 recebe tratamento.

Esses dados revelam uma realidade bastante desafiadora, o que sugere a necessidade de buscar ajuda imediata para conter o impacto do problema sobre as famílias e a sociedade.

Vários são os motivos que fazem com que o indivíduo consuma substâncias entorpecentes. O uso de drogas está relacionado a problemas de ordem emocional, social e mental decorrentes de influências genéticas, familiares e ambientais, além das questões de caráter socioeconômico.

Ao escolher as terapias para a recuperação da dependência química, os pais precisam considerar diferentes fatores, inclusive o local em que o filho vai receber o tratamento. O ideal é buscar uma instituição experiente e que ofereça uma estrutura compatível com a necessidade de cada paciente.

Um dos aspectos mais relevantes é entender os processos que envolvem a dependência química, o reconhecimento do problema e as etapas necessárias para a recuperação da doença.

Mediante o surto de coronavírus e a maior exposição dos usuários de drogas ao contágio, é preciso buscar ajuda o quanto antes. Vale destacar que, em algumas situações, a internação pode ser o melhor caminho antes da pessoa se infectar.

O presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei 13.840 de 2019, que defende a internação involuntária do dependente químico que não reconhece a necessidade de intervenção.

O psiquiatra Claudio Duarte reforça aos familiares “A sugestão é que as famílias devem sempre tentar antes a internação voluntária, por meio do convencimento do dependente pela abordagem motivacional. E que internação involuntária só seja aplicada mediante indicação precisa e somente pelo tempo necessário para reduzir risco de vida, buscando engajar o paciente no tratamento para que se torne voluntário, nem que seja voluntário para esquema ambulatorial.”

Avaliar as possibilidades de tratamento disponível e escolher a conduta mais adequada pode representar chances reais de reabilitação da saúde integral do dependente químico. Além dos riscos associados à pandemia de Covid-19, o tratamento especializado também auxilia no controle de questões ligadas aos distúrbios emocionais como depressão, ansiedade, transtornos psicóticos e situações relacionadas à ideação suicida.

Reconhecer o problema e buscar ajuda profissional o quanto antes é um importante passo nessa jornada rumo à reabilitação da saúde e ao retorno ao convívio social de quem enfrenta esse desafio.

Fonte : Dr. Claudio Duarte, psiquiatra e coordenador da Unidade de Dependência Química do Hospital Santa Mônica.