Ela só tem 4 anos.
Ela já tem 4 anos?
Ela já vai para a escola.
Ela ainda não vai para a escola?
Ela já escreve o nome dela.
Ela ainda não escreve o nome dela?
Ela já ama os livros.
Ela ainda não lê?
Ela já tem as suas brincadeiras preferidas.
Ela ainda só brinca e não escreve?
Ela já fala bem, se relaciona bem com as outras crianças, é generosa,
ama os animais e a natureza, é curiosa, faz boas perguntas e é muito observadora.
Ela ainda não lê e não escreve e já tem 4 anos?
Aquela professora é carinhosa, atenciosa, estudiosa, pesquisadora, provocadora,
mas não alfabetiza as crianças de 4 e 5 anos.
Aquela coordenadora é séria, comprometida, estudiosa, parceira,
mas só entende de crianças até 3 anos.
Não serve para coordenar os professores que trabalham com crianças de 4 e 5 anos.
Aquela escola acolhe a comunidade, respeita a infância,
tem bons profissionais, um quintal lindo e um projeto pedagógico potente,
mas não prepara para o primeiro ano do fundamental .
Prepara? Não serve? Ainda não faz?
A adultez cristaliza o olhar para a infância.
Quem são as crianças que habitam os espaços da escola?
Qual é a concepção de infância que os adultos têm?
Qual o papel das famílias na relação família-escola?
Que histórias contam os projetos vividos pelas crianças?
Como a escuta atenta e o olhar sensível dos adultos podem
garantir às crianças o direito ao tempo sagrado da infância?
E, ainda sobre o tempo, que tempo tem a criança para brincar,
para pesquisar, para fazer perguntas e para aprender?
A infância fragmentada, compartimentada, acelerada, tem urgência de vazios.
A pressa rouba a infância.