“Chega”, “Não”, “Ai é perigoso” e tantas outras pequenas palavras que, provavelmente, não precisariam ser ditas se nos permitíssemos compreender a alma de uma criança – ou, ainda, se nos permitíssemos reencontrar a essência de nossas próprias almas.
Ao contrário disto – imersos na cultura da pressa, da produção, das telas, do imediatismo – tentamos, quase que de forma inconsciente, trazer as crianças a este mundo desajeitado em que vivemos, afinal, é mais fácil ligar um tablet e entregar à criança do que acompanha-la em uma caminhada que terá inúmeros desvios, perguntas e que provavelmente consumirá alguns longos minutos de seu dia. É mais fácil ligar a TV, todas as manhãs, do que dar uma volta na praça mais próxima. (preciso dizer, porém, que defendo experiências equilibradas. Vivemos em uma sociedade mediada por telas; é extremamente difícil isolar as crianças desta realidade. Devemos, então, apresentar essas interfaces comunicacionais com responsabilidade, pensando, inclusive, no bem-estar das crianças que, se restritas às telas, podem apresentar comprometimentos tanto físicos, como sociais e emocionais).
São escolhas que fazemos cotidianamente, e que nos convidam a pensar sobre o que estamos priorizando ao lidar com as infâncias.
Acredito que, comumente, priorizamos uma noção de tempo que há muito nos foi imposta (o tempo da era industrial – demarcado por processos repetitivos, delimitados, sempre insuficientes e digno de nosso controle. Será?). A verdade é que somos todos frutos destas revoluções industriais, urbanas, tecnológicas e, sim, é difícil resistir a uma estrutura tão calcificada e dominante. Queremos controlar o tempo e também a vida. Acreditamos ser capazes disto, mas a verdade é que ambos, definitivamente, fogem ao nosso controle.