quarta-feira, 18 de setembro de 2019

O homem sem cabeça de Hilton Gorresen

É uma coisa rara, mas às vezes acontece. Neste mundo nada é impossível. Pois o italiano Petrúquio Pasqualini encontrou certo dia um homem sem cabeça dentro de suas terras. Achou que um indivíduo desprovido de cabeça não era uma coisa normal. Podia ser um comunista, um chauvinista ou mesmo um pedófilo. O homem parecia perdido ali, virava o corpo de um lado a outro, sem se fixar em nada em especial. Depois desapareceu, se mandou.

O italiano achou melhor dar queixa na polícia. Entrou ainda trêmulo na delegacia e foi falando, atropelando palavras: uma cabeça sem homem, isto é, um homem sem cabeça. Eu vi! Eu vi!
– Fique calmo, homem! – falou educadamente o policial, e o italiano também achou que isso não era normal. Coisas estranhas estavam acontecendo.
– Seu nome? – voltou a falar a autoridade.
– Petrúquio Pasqualini.
– Muito bem, senhor Prepúcio, o senhor poderia descrever esse indivíduo? Qual a cor dos olhos, do cabelo?
– Mas como? Se o cara não tinha cabeça!
– Não se preocupe com isso. Também tenho em casa dois jovens sem cabeça e não saio à rua apavorado.
– É sério, doutor. E se ele volta lá em casa?
– Tá bom! Ele lhe falou alguma coisa? Fez ameaças?
– Evidente que não.
Então o policial expediu ordem para a “captura de um indivíduo acéfalo, que estava apavorando a população”. A população aí mesmo é que ficou apavorada. Viam o sem-cabeça em toda parte. Tudo que acontecia passou a ser debitado em sua conta. Desfalque na empresa tal? Coisa do sem-cabeça. Moça que engravidava? Olha ele aí! Forjaram-se roubos para abocanhar o dinheiro do seguro. Praticaram-se atos de vingança. Vazaram conversas entre autoridades.
E o pobre do indivíduo acéfalo? Ninguém o viu. Não se sabe ao certo se ao menos existia. Sabe, o senhor Prepúcio, digo, Petrúquio não era muito bom da cabeça...