quarta-feira, 17 de abril de 2019

Período sensível (parte 5)

A Partir dos Dois Anos

Aos dois anos, há coisas importantes acontecendo: a criança já tem alguma independência física, sabe andar e pegar, carregar e empurrar, abre e fecha com algum sucesso, e encaixa coisas. Para chegar a isso, a criança trabalhou muito, e esse esforço todo gerou uma outra habilidade fascinante: a vontade. Até perto dos dois anos, a criança é escrava de impulsos quase sempre instintivos. Por perto do segundo aniversário isso começa a mudar, e a criança começa a querer, e não querer. Nesse mesmo período, porque já é muito mais independente, a criança precisa ousar mais, e começa a notar que seu sucesso e seu fracasso dependem de si. A partir dos dois anos, surgem períodos sensíveis de outra ordem, em uma tentativa da criança de organizar sua presença no mundo.

Período Sensível da Ordem

Porque agora a criança tem uma independência física considerável, ela ousa mais. Não fica sempre por perto dos adultos, que lhe emprestavam a segurança da presença. Agora, ela precisa se sentir segura também em suas relações com o ambiente e o tempo. Por isso, começa aqui um período sensível que durará cerca de dois anos, ao longo dos quais a criança precisará de ordem como precisa de ar.

Há três tipos de ordem que a criança exige da vida: ordem no ambiente, ordem no tempo e ordem na conduta do adulto. A ordem no ambiente quer dizer que a criança deseja encontrar cada coisa em seu lugar e cada coisa sempre no mesmo lugar. Nem sempre nós conseguimos deixar tudo no lugar, e livros se acumulam nas mesas e louças na pia. A criança pode lidar com isso, mas é importante que as coisas fiquem no mesmo lugar: que os livros se acumulem só na mesa, que a louça se acumule só na pia. A criança precisa saber como seu ambiente é para poder se arriscar em novas conquistas, e por isso é importante que ele se repita dia após dia. A ausência disso leva ao desespero.

A ordem no tempo significa que a criança precisa ter rotina. Mas não sabe ver as horas. Então o relógio não importa. Importa menos o horário e muito mais a sequência em que as coisas serão feitas: café da manhã, escovar os dentes, tomar banho, vestir-se, pegar a mochila. A repetição de sequências, sobretudo de manhã e à noite, e antes das refeições dão para a criança uma referência do tempo que é preciosa para sua organização interior. A ausência disso leva ao desespero.

A ordem na conduta do adulto é a coerência de nosso comportamento, especialmente no que diz respeito à maneira como interagimos diretamente com a criança, e aos limites que colocamos. Porque estamos cansados ou felizes, com dor de cabeça ou com renovada alegria, nossa tolerância, nossa interação e nossas expectativas variam. Quando a criança não pode ter certeza de nossos comportamentos, e muito a pega de surpresa, ela se revolta bastante. Precisamos ter claros quais são os limites importantes na criação das crianças, garantir esses, e deixá-la livre para se desenvolver.

Fonte: Lar Montessori