quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

O humano e as escolhas por Jura Arruda

Temos, nós humanos, autoconsciência. Isso nos diferencia dos outros animais e deveria fazer-nos melhores porque, conscientes de nossa condição humana, poderíamos aperfeiçoar-nos, e isso incluiria saber que é melhor o respeito à natureza do que a simples exploração dos bens; que o melhor caminho é a valorização do convívio em sociedade, com as incontáveis diferenças, que permite o aprendizado a partir da troca de experiências, o olhar generoso e o auxílio mútuo para, a partir daí, gozar a vida na medida que a vida se oferece.

Não foi esse o caminho. Desde os primórdios o ser humano entende que sua autoconsciência o coloca acima dos outros, inclusive dos outros de sua espécie. Onde era para conter estima, habita a soberba. Falo de maneira generalizada porque não possuo números. É certo que há os que buscam o caminho da paz e do altruísmo, mas o que nos mostra a realidade atual é que estão em número muito inferior ou há uma quantidade considerável de humanos que não atingiram a consciência de si mesmos, nem é capaz de ponderar fatos e fazer escolhas sãs.

Chegamos a 2019, o mundo ferve, o Brasil descobriu a política e a polarização, e é exatamente diante disso que podemos observar o quanto seres humanos são comandados por instinto e não pela razão, ou ainda pior, por um viés contaminado da razão, que ilude-os a pensar que estão salvando suas vidas da extinção (a luta do instinto), quando estão jogando-se em abismos profundos e irreversíveis.

Discussões em redes sociais e em praças apontam para um retrocesso imenso que supúnhamos impossível. Não, não estou entrando em questões partidárias, fique tranquilo. Falo de visão de mundo, de respeito ao próximo, de avanços sociais que são vistos como afronta por fanáticos e tradicionalistas. Falo do desejo de vingança com armas em punho de pessoas que sentem sede de morte, de vingança do que sequer sofreu. O que vemos é um filme épico em que vale mais a bandeira do reino, o reinado do rei e a posse da terra, do que o olhar empático sobre as pessoas e suas diversas culturas. Um filme daqueles em que exércitos movidos por raiva ou ignorância correm em direção ao outro com lanças e mágoas para destruir o que lhes parece diferente.

Esse mundo bélico e insano que conta com a conivência dos poderosos, porque isso lhes agrada e rende capital, pode extinguir da Terra, em breve, toda razão. O que, nos dias de hoje, se parece muito com a vinda do "Messias".

(Crônica publicada em 04/01/19, no jornal A Notícia)