quinta-feira, 17 de abril de 2014

Sobre dor, tristeza, esperança e felicidade

Dois homens, ambos gravemente doentes, estavam no mesmo quarto de hospital. Um deles podia sentar-se na sua cama durante uma hora todas as tardes para conseguir drenar o líquido de seus pulmões. Sua cama estava junto da única janela do quarto. O outro homem tinha de ficar sempre deitado de costas para a janela. 

Os homens conversavam horas a fio... Falavam das suas mulheres e famílias, das suas casas, seus empregos, seus envolvimentos no serviço militar, locais onde eles passavam as férias... Todas as tardes, quando o homem da cama perto da janela se sentava, ele passava o tempo descrevendo ao seu companheiro todas as coisas que ele podia ver do lado de fora da janela. O homem da cama do lado começou a viver para aqueles períodos de uma hora, em que o seu mundo era alargado e animado por toda a atividade e cor do mundo do lado de fora. A janela dava para um parque com um lindo lago repleto de patos e cisnes, crianças brincavam com os seus barquinhos, jovens namorados caminhavam de braços dados por entre as flores de todas as cores e uma bela vista da silhueta da cidade podia ser visto na distância. Quando o homem perto da janela descrevia isto tudo com detalhes requintados, o homem no outro lado do quarto fechava os seus olhos e imaginava cada cena. Uma tarde quente, o homem perto da janela descreveu um desfile que passava. Embora o outro homem não conseguisse ouvir a banda - ele podia vê-la no olho da sua mente como o senhor a retratava através das palavras descritivas.

Dias, semanas e meses se passaram. Uma manhã, a enfermeira chegou ao quarto trazendo água para os seus banhos, e encontrou o corpo sem vida do homem perto da janela, que tinha morrido tranquilamente em seu sono. Ela ficou muito triste e chamou os atendentes para que levassem o corpo dali. Logo que pareceu apropriado, o outro homem perguntou se podia ser colocado na cama perto da janela. A enfermeira fez a troca e observou para ter certeza de que ele estava confortável.

Vagarosamente, pacientemente, ele se apoiou em um dos cotovelos para tomar o seu primeiro olhar do mundo real. Fez um grande esforço e lentamente olhou para fora da janela além da cama, e encontrou uma parede branca. O homem perguntou à enfermeira o que poderia ter levado seu companheiro falecido, ter descrito coisas tão maravilhosas vistas dessa janela. A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem sequer conseguia ver a parede. E acrescentou: Talvez ele só queria encorajar você!