segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Opinião (parte final)

Nos últimos anos, como a crise de confiança que se gerou em torno da imprensa, mensagens e tweets como esse do deputado federal eleito servem exatamente para criar ainda mais desconfiança na população. (...) É a isca perfeita para aumentar ainda mais a polarização — alguns fazem isso profissionalmente, outros são apenas massa de manobra mesmo.

Funciona mais ou menos assim:
* Cria-se um espetáculo, algo polêmico; 
* Contas associadas divulgam o vídeo para aumentar sua divulgação, criando uma falsa sensação de que todo mundo está falando sobre aquele fato e concordado com a mensagem;
* As pessoas começam a compartilhar organicamente a mensagem — "já que tanta gente pensa assim, eu também penso e vou mandar para os meus amigos do WhatsApp";
* A imprensa repercute e o autor vira um "mártir digital" para seus seguidores, alguém perseguido pela mídia e patrulhado pelo "politicamente correto — o que ajuda a radicalizar ainda mais o discurso. Como escrevi aqui, esse é o caminho da normalização do discurso de ódio. Na internet, quem é mais barulhento sempre ganha mais atenção. Só que quando encontramos alguém ganhando a atenção por ser barulhento, muitas vezes falamos mais alto. E quanto mais alto as pessoas falam, mais barulhento você precisa ser — assim, discursos vão se tornando cada vez mais extremistas, mais polarizados, mais agressivos, mais desconectados com a realidade.

É um jogo pensado para desmoralizar o discurso público e o jornalismo — e nós, jornalistas, estamos perdendo feio. Os principais ganhadores? Aqueles que sabem manipular essa onda digital para criar cortinas de fumaça — só para ficar em três exemplos: o MBL com sua ofensiva contra obras de arte que ofendem a família, Janaína Paschoal e sua luta contra a doutrinação nas escolas, ou o presidente eleito Jair Bolsonaro e sua obsessão pelo kit gay que nunca existiu. Aliás, oito em cada dez eleitores de Bolsonaro acreditam na mentira do kit gay.

Artigo completo em https://www.linkedin.com/pulse/frota-bolsonaro-folha-e-os-inimigos-da-democracia-rodrigo-brancatelli/?trk=eml-email_feed_ecosystem_digest_01-recommended_articles-4-Unknown&midToken=AQFlXFEGwqmUFg&fromEmail=fromEmail&ut=0h2WOS-izWfEw1