segunda-feira, 14 de novembro de 2016

CVV entrevista Vanessa Bencz

O que o bullying tem a ver com o suicídio?

Vanessa Bencz é uma jornalista que tem ficado famosa longe das bancadas dos telejornais. De tanto sofrer bullying na infância e adolescência – numa época em que nem se falava sobre o assunto – acabou superando suas inseguranças e hoje dá palestras sobre o tema. Infelizmente, um dos caminhos para o suicídio tem o bullying como Norte. De tanto ser agredida, a vítima passa a acreditar em sua inferioridade e o desejo de não mais viver torna-se recorrente. E é sobre a importância de falar sobre apelidos, chacotas e humilhações que Vanessa Bencz deu esta entrevista para o CVV Joinville. 

Texto e foto: Eberson Theodoro

CVV Joinville - Foram quase 700 palestras em quatro anos. Quais os casos de bullying mais recorrentes em sua opinião?

Vanessa Bencz - Os casos mais comuns são crianças e adolescentes acima do peso. Alguns quilos a mais eles são alvo de vários apelidos. Em segundo lugar, questões sexuais, envolvendo homossexualidade, menosprezando meninos que têm trejeitos femininos, por exemplo e em terceiro, o racismo. Pra lidar com a dor, com a exclusão, é muito comum essas pessoas chegarem a se cortar. 

CVV - Qual idade mais comum entre agressores e vítimas de bullying?

V.B. - Dos 12 aos 14 anos, lá pela 6ª série. Também acontece antes dos 12, mas são piadas mais ingênuas. Geralmente o agressor já foi vítima e ele passa a agredir pra não ser mais agredido, tentando não ser um alvo fácil.

CVV - O que motivou a trilhar esse caminho?

V.B - Comecei a falar sobre bullying porque vi o quanto isso é dolorido e como não fazíamos nada por essas pessoas. Eu soube de pessoas que pediram ajuda e por não ter recebido uma atenção no momento certo, acabaram se suicidando. 

CVV – Qual sua maior dificuldade?

V.B. – O pior é ver pessoas que não dão atenção a este problema. Me incomoda ver gente zombando, dizendo que o mundo é dos fortes. Não! O mundo também é dos fracos, das pessoas com dificuldades. Não são os que sofrem agressão que devem mudar, quem tem de se adaptar são os agressores. A sociedade ainda não aprendeu o que é respeito ao próximo. 

CVV – Qual o papel dos pais e professores na prevenção?

V.B. - A presença deles é fundamental. Percebo que muitos agressores trazem de casa comentários maldosos, vindos de exemplos que muitas vezes são ouvidos em casa. Também cabe aos pais e professores ficarem atentos aos sintomas, como medo excessivo, tristeza constante...criança que começa a ficar quieta demais pode ser vítima. O normal é ser feliz e não triste e chateado.

CVV - O que se tem feito hoje no combate ao bullying?

V.B. - As escolas estão muito em busca de como saber lidar com o bullying. O que eu recomendo nas escolas é sempre investigar cada caso e quando for diagnosticado, levar a situação em particular com os envolvidos e jamais chamar a atenção em público, principalmente evitando apontar a vítima diante da turma inteira. É também importante a escola fazer ações criativas para passar valores de respeito e boa convivência. 

CVV – Na sua opinião, qual a ligação entre bubllying e suicídio

V.B. - É uma ligação extremamente direta. Semana passada ouvi um relato de uma criança negra que tentou suicídio com álcool e remédios. Ela tem apenas 14 anos. O sonho dela era ser modelo, mas desistiu de tudo por causa da forma em que é tratada em casa e pelos colegas de escola. Depois de tanta humilhação a pessoa pode acreditar que merece morrer e acaba tentando suicídio.

CVV – O que mais te chocou dos casos de bullying que você já viu?

V.B. – Foi um menino de 16 anos que tem raiva do mundo porque seu pai está preso. Ele alimenta um ódio pela vida a cada comentário maldoso de seus colegas de escola sobre ter um pai preso. Este adolescente tem vontade de bater nos colegas e no juiz que não permite que seu pai seja solto. Ele só queria poder conviver com seu pai e tudo isso deixa ele com muito rancor da vida. 

CVV – Que recado você daria para quem tentou ou quer tentar suicídio?

V.B.- Eu não te julgo porque a vida é difícil mesmo. Passamos por situações difíceis e às vezes o suicídio passa pela nossa cabeça. Mas se dê esta chance, esteja aberto ao que vem pela frente. Peça ajuda, mas não deixe de se dar uma chance de viver.