domingo, 23 de fevereiro de 2014

... "Conheço o meu Lugar"


"O que é que pode fazer o homem comum, 
neste presente instante senão sangrar?
Tentar inaugurar, 
a vida comovida, 
inteiramente livre e triunfante?

O que é que eu posso fazer, 
com a minha juventude
quando a máxima saúde hoje, 
é pretender usar a voz?
O que é que eu posso fazer, 
um simples cantador das coisas do porão?
Deus fez os cães da rua pra morder vocês
que sob a luz da lua, 
os tratam como gente - é claro! - a pontapés.

Era uma vez um homem e seu tempo... 
(Botas de sangue nas roupas de Lorca).
Olho de frente a cara do presente e sei, 
que vou ouvir a mesma história porca.
Não há motivo para festa: ora esta! 
Eu não sei rir à toa!

Fique você com a mente positiva que eu
quero a voz ativa (ela é que é uma boa!), 
pois sou uma pessoa.
Esta é minha canoa: eu nela embarco.
Eu sou pessoa! 
(A palavra "pessoa" hoje não soa bem - 
pouco me importa!)

Não! Você não me impediu de ser feliz! 
Nunca jamais bateu a porta em meu nariz!
Ninguém é gente! 
Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve!

Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!
Não sou da nação dos condenados! 
Não sou do sertão dos ofendidos!
Você sabe bem: 
Conheço o meu lugar!"

Belchior