Acho que sou cinestésico (não confundir com cinéfilo). Mas não se preocupe, não é coisa grave. Quê? Você não sabe o que é isso? De acordo com a neurolinguística, nossa percepção da realidade se dá por três canais diferentes – visual, auditivo e (aí vem ele) cinestésico, referente aos demais sentidos.
Os visuais são aqueles que possuem memória fotográfica, que notam as cores, os detalhes, e até se expressam usando palavras concretas, que evocam formas e coloridos. Auditivos são os que guardam nomes e endereços, lembram-se de músicas e preferem ouvir aulas ou palestras. Os auditivos têm até um patrono, o poeta Olavo Bilac, o único que conseguia ouvir estrelas. Cinestésicos são os que processam as sensações, lembram-se de toques, gostos, cheiros, emoções.
Nunca, em meus textos, consegui fazer uma descrição. O negócio não fica muito bom, não consigo visualizar os objetos ou cenários e sai apenas uma fiada de lugares-comuns. Também não tenho paciência para ler descrições em contos ou romances, normalmente passo por cima. Para me lembrar de locais sou um desastre: passo todos os dias pelas mesmas ruas, mas não me perguntem se determinado prédio se localiza antes ou depois do semáforo. O único objeto cuja cor trago na memória é o cinto vermelho de minha mãe, por motivos óbvios. Trauma de infância.
Logo se vê que não sou visual. Auditivo? Também não sou bom para guardar nomes. Às vezes, não sei se quem atravessou o Mar Mediterrâneo foi Maomé ou Moisés. Se ouço um barulho de buzina de madrugada, acho que é alguém me chamando.
Mas sou ótimo para observar comportamentos, ler expressões corporais, nada me passa despercebido. Posso dizer pra pessoa, observada num jantar: não vou me lembrar de seu rosto, nem de seu nome, mas sei que você detestou a sobremesa. Por eliminação, só me resta ser cinestésico.
Uma observação: existe também o termo “sinestésico” ou “sinestesia”, conceito usado em literatura, referente ao cruzamento de imagens, tais como “verde silencioso”, cruzamento de visual com auditivo.