A notícia se espalhou pelo mundo e não se trata de fake news: Michael Rotondo, um americano de 30 anos, da cidade de Siracusa, no estado de Nova Iorque, foi feito réu pelos próprios pais. O motivo? Seus pais tiveram que apelar para uma ação judicial para que o filho deixasse de morar na casa deles.
Christina e Mark Rotondo, os pais, procuraram a justiça americana no início deste mês e apresentaram provas de cinco avisos que deram ao filho, a partir de fevereiro deste ano. Eles chegaram a dar mil e cem dólares para ajudar o filho a encontrar um novo lugar para morar; sugeriram que ele vendesse coisas de valor para que isso lhe rendesse algum dinheiro até arranjar um emprego; indicaram opções de trabalho na cidade onde eles moram. E deram vários prazos que o filho nunca quis cumprir. Por isso, explicaram ao juiz que decidiram tomar a atitude drástica de apelar à Justiça.
O filho ainda tentou durante a audiência argumentar que qualquer inquilino tem 6 meses para deixar um imóvel. Mas o juiz, Donald Greenwood, discordou. Ele considerou que os avisos dos pais foram mais do que suficientes e ordenou o despejo do filho. Em entrevista, após a audiência, Michael afirmou que a decisão “foi ridícula”.
Nos Estados Unidos existe uma cultura de que a maioria dos pais se dedica bastante aos filhos até a conclusão do ensino médio. Há entre muitos pais a preocupação de incentivar a carreira esportiva do filho que pode abrir caminho para uma vaga num “college”. Mas aos 18 anos é esperado que um filho siga seu rumo, cada qual morando na faculdade ou se virando com o trabalho que conseguir e daí em diante seguindo a vida sem voltar para a casa da mamãe. Esta é a “tradição americana” que eu tenho visto.
No Brasil, a maioria dos meus amigos de faculdade moravam com suas respectivas famílias como eu. Eu deixei a casa da minha mãe aos 24 anos. Quando já estava formada e com um emprego estável. Minha mãe sofreu com a minha decisão de morar sozinha. Repetia que eu não precisava ir. Mas é fato de que hoje em dia este tempo com os pais está se prolongando cada vez mais.
De acordo com o IBGE, 1 em cada 4 adultos entre 25 e 34 anos ainda moram com os pais. Nos últimos 10 anos, o número de jovens entre 25 e 30 anos vivendo com os pais aumentou em mais de 40% e idade média para os filhos saírem de casa passou de 25 para 35 anos. Não é à toa que alguns psicólogos têm defendido que a adolescência seja considerada até os 25 anos.
Os filhos adultos, ainda na casa dos pais, recebem o nome de filhos cangurus. Eu consultei o psicólogo Rossandro Klinjey, bem conhecido nas redes sociais e nosso consultor aqui no blog, para saber dele se há algo de errado nessa relação familiar. Aqui o que ele diz: "Sempre que analisamos temas como esse não cabe julgamento. Cada caso é um caso. Se é, por exemplo, uma decisão coerente por economia financeira para ficar um pouco mais estável até poder sair de forma definitiva. Se é o caso da pessoa ficar por fragilidade emocional, pois tem dificuldade de enfrentar o mundo adulto e a própria vida, se bancar emocionalmente e financeiramente. Aí a pessoa acaba mantendo essa fragilidade quando os pais não estimulam essa saída de forma amorosa, no sentido de entender que chega um momento em que a pessoa tem que se auto-determinar. Por mais que seja agradável os filhos perto da gente, muitos pais acabam percebendo que se os filhos continuarem assim, quem vai cuidar deles quando eles envelhecerem? Importante que família é isso: o lugar em que a gente acolhe, mas também um lugar em que a gente se prepara para viver a própria vida".
* Fabiana Santos é jornalista, casada, mãe de Felipe, de 14 anos, e de Alice, de 8 anos. Eles moram em Washington-DC. O mais velho começa este ano o “High School” e em 4 anos deve seguir para uma Universidade, que pode acontecer de ser bem longe de casa. Blog: http://tudosobreminhamae.com/ blog/