terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Reflexão (sociedade)

Se fosse a sua mãe? por Fabrício Carpinejar

Se fosse a sua mãe? Agredida sem parar por quatro horas enquanto estava dormindo? Quem bateu queria matar: diversas fraturas graves, trauma de pulmão e dos rins, 40 pontos na boca. Sangue nas paredes, no sofá, no chão, nos lençóis, em uma perseguição implacável.

Você ainda vai colocar a responsabilidade no rosto desfigurado? Por que ela recebeu em casa no primeiro encontro? Se não tivesse sido no apartamento dela, ela estaria morta, não teria sido encontrada a tempo de socorro. Há portaria, câmeras, vizinhos. Ela trocou mensagens por oito meses, conferiu as redes sociais, mantinha amigos em comuns, todos já passamos por essa situação de tentar conhecer alguém devagar, antes de convidar para jantar. Ela não foi imprudente, apresentou segura paciência, mas não foi suficiente, nunca é suficiente para controlar o feminicídio que vem de dentro da cultura de culpabilizar a vítima.

Não havia como antecipar o agressor, profetizar o seu perfil violento. O mal é invisível na aparência, fica escondido de propósito, para surpreender as suas presas. Parecia um sujeito normal, represando os recalques e a aberração psicológica com a digitação.

Poderia ser com ela ou com a sua mãe. Pense antes de falar, atenuantes não fazem sentido na crueldade planejada - tanto que ele se registrou com nome falso na recepção.

Ela estava dormindo, indefesa, vulnerável, sem chance de se defender. Acordou sendo esmurrada. Nada aconteceu de errado antes da explosão da violência para despertar sirenes e alertas psicológicos, nada avisava do enlace trágico. Ela ainda o convidou para deitar no seu ombro, dormir abraçadinho. Existia afeto e esperança, quem não alenta a expectativa de uma história de amor?

Ou você não aceita que uma mulher de 55 anos se envolva com alguém de 27 anos, é isso? A diferença de 28 anos de idade desagrada? É natural um homem mais velho sair com uma adolescente, já o contrário não cai bem? Que machismo irracional é esse?

O nome disso é misoginia generalizada. Ódio a mulheres independentes, maduras, resolvidas financeiramente, que não precisam de nenhum homem. Muito ódio a todas as mulheres representadas numa só mulher. A igualdade foi novamente espancada. A liberdade foi novamente espancada.

Então, se fosse a sua mãe, o que diria?