quinta-feira, 19 de abril de 2018

Não é fácil desviar dos clichês...

Embora o clichê aponte que a intuição seja um atributo muito mais feminino do que masculino... Frequentemente, clichês são um sinal de falta de criatividade ou preguiça. 

Montando o enxoval de uma filha por vir... Experimente olhar para a seção das meninas e verá que em algumas lojas o panorama é quase monocromático. Sei que a Mônica e a Magali são meninas apesar de usarem vermelho e amarelo, porquê a obsessão com o rosa?

Mais do que falta de imaginação, os clichês podem ter outros significados. Não retratam apenas a mesmice dos fabricantes de roupas e acessórios. Eles também denotam preconceitos e estampam o despreparo da sociedade para criar suas mulheres.

Frase ouvida por um recém pai: “Agora você deixou de ser consumidor para virar fornecedor”. Será que em vez de uma criança como qualquer outra, seria eu pai de uma peça de picanha? O choro que não me deixa dormir não é de um bebê, mas de um celular última versão? Fornecedor de quê, afinal?

Sobre a sexualidade... “O menino a gente solta, a menina a gente prende”. Em vez de pai, será carcereiro? Esse clichê não só é nocivo para as meninas como também para os meninos que crescem sob a responsabilidade de serem predadores. Na melhor das hipóteses, se tornarão homens que não sabem lidar com seus sentimentos, inseguros e ignorantes do que realmente encanta uma mulher. Além do machismo, nesse chavão há uma forte dose de bestialização, como se o relacionamento entre homens e mulheres fosse uma cadeia alimentar. 

Tipo de pais que levam seus filhos adolescentes ao puteiro da mesma forma que se leva uma criança à sorveteria para escolher seu sabor favorito. Quer clichê maior que esse?

“Que princesa”. Ok, obrigado. Sei que a intenção é elogiar. Mas a qual tipo de princesa você se refere? Aquelas meninas intocáveis, que esperam em sua redoma o nobre príncipe engomadinho para salvá-las? Ou uma escudeira viking, uma guerreira troiana. Uma Dandara ou uma Mérida. Aliás, até as princesas da Disney há algum tempo fogem dos clichês da garota prisioneira dos padrões sociais. Muitas passaram a resgatar, por exemplo, as origens dos contos de Andersen nos quais várias das personagens eram corajosas, independentes e lutavam por seus objetivos. 

Agora, veja só: os pais determinam o que a filha vai ser ou como deve se comportar também é um baita clichê. Pensando bem, ela vai ser uma princesa, se quiser, que siga seu caminho. O papel dos pais é apresentar as possibilidades. O dela é de fazer as escolhas.

Outro exemplo de pai e filha...  Na rua sozinhos, ouvem “onde está a mãe?”, como se um pai não tivesse capacidade para cuidar de sua própria filha ou a mãe não pudesse ter outras atividades além de cuidar da criança?

Outros clichês aparecerão pelo caminho em muito mais quantidade e cada vez mais violentos: “lugar de mulher é na cozinha”, “mulher não sabe dirigir”, “mulher não entende de futebol”, “feminista é mal comida”...

Acredite: não é fácil desviar dos clichês mas é muito mais difícil viver sob a regência deles.

Texto baseado em Rodrigo Focaccio