domingo, 14 de junho de 2020

Pensando (opinião)

Passei a minha infância em Florianópolis. Época onde tínhamos que tirar uma nota boa para poder ir pra rua brincar (boa era de 8,5 pra cima), ficar em casa era castigo. Tínhamos uniformes e material escolar comprados pelos nossos pais, não tínhamos celular. As pesquisas de escola eram feitas na biblioteca da escola ou nas enciclopédias (Barsa) de algum amigo, me lembro como se fosse hoje. O trabalho era escrito à mão e na folha de papel almaço, a capa era feita com papel sulfite. Tinha dever de casa pra fazer, a Educação Física era de verdade, tínhamos vôlei, handebol, futebol, etc. Tínhamos desfiles cívicos e festa do folclore na escola com participação em massa dos alunos. Só saudades... Cantávamos o Hino Nacional no pátio antes de ir para a sala de aula. Na escola tinha o gordo; a magrela; a branca azeda; quatro olhos; a tampinha; Olívia palito; o palitão; o cabelo bombril; o negão; pirulito; narigudo e por aí vai... Todo mundo era zoado, às vezes até brigávamos, mas logo estava tudo resolvido e seguia a amizade. Era brincadeira e ninguém se queixava de bullying.

O lanche era levado na lancheira (pão com margarina ou pão com ovo, biscoito com margarina, uma fruta - se tivesse). Quando tinha dinheiro comprava um pacote de biscoito, uma crush ou um misto na cantina, pirulito e umas balinhas Xaxá, Soft ou caramelos Embaré na carrocinha em frente ao colégio. Época em que ser gordinho(a) era sinal de saúde e se fosse magro, tínhamos que tomar o Biotônico Fontoura. A frase "peraí mãe” era para ficar mais tempo na rua e não no computador ou no celular.

Colecionava-se figurinhas, bolinha de gude, tampinha de garrafa, selos, papéis de carta... Tinham as competições de iô- iô, da Coca Cola... As brincadeiras eram saudáveis, brincávamos de bater figurinhas e, não nos colegas e professores. Adorava quando a professora usava mimeógrafo e aquele cheiro do álcool tomava conta da sala. Na rua era vôlei, queimada, pique bandeira, pique esconde, pega-pega, pular elástico, polícia e ladrão, andar de bicicleta, chicotinho queimado, confeccionar e empinar pipa, e ficar na rua até tarde. Comia na casa dos colegas (a comida na casa do colega era sempre mais gostosa). Não importava se meu amigo era negro, branco, pardo, rico, pobre, menino, menina, todo mundo brincava junto e era muito bom! Bom não, era maravilhoso! Assistia Pica-Pau, Tom e Jerry, Pantera Cor de Rosa, Papa Léguas, Sítio do Pica-Pau Amarelo, Corrida Maluca, Zé Colméia, Os Flintstones, Terra de gigantes, Perdidos no espaço, Jornada nas estrelas, Jeane é um gênio, O incrível Hulk e vários outros seriados... Tínhamos nossas tarefas de casa que cada um fazia como se fosse brincadeira e ainda ia ajudar o amigo a terminar logo a dele para ir brincar.

Que saudades desse tempo em que a chuva tinha cheiro de terra molhada! Época em que nossa única dor era quando passava Merthiolate ou iodo nos machucados. Felizes em comparação com esse mundo de hoje onde tudo se torna bullying. Nossos pais eram presentes, mesmo trabalhando fora o dia todo, educação era em casa, até porque, ai da gente se a mãe tivesse que ir à escola por aprontarmos. Nada de chegar em casa com algo que não era nosso, desrespeitar alguém mais velho ou se meter em alguma conversa. Xiiii... Era um tapa logo ou só aquele olhar de "quando chegar em casa conversamos" (já sabia que iria apanhar). 

Tínhamos que levantar para os mais velhos sentarem. 
Fico me perguntando, quando foi que tudo mudou e os valores se perderam e se inverteram dessa forma? 

Quanta saudade, quantos valores, que para a nova geração são desconhecidos! 
Grato por tudo que vivi e aprendi. Saudades... Lembrança boa de um tempo bom...
Luciana Battistotti