quinta-feira, 25 de junho de 2020

Olhar para o passado e quebrar o ciclo - Ligia Moreiras

Muitas de nós, quando decidimos buscar a educação sem violência, sentimos muita dor. É uma dor funda relembrar que, embora nos esforcemos tanto para cuidar das nossas crianças com amor, não foi assim que fizeram com a gente. E aquela criança ferida que fomos muitas vezes permanece lá atrás se sentindo desamparada. Essa visita ao passado é fundamental. Ela lança luz sobre o porquê do ciclo da violência muitas vezes se manter.


Mas duas coisas são fundamentais. Primeiro, quando decidimos educar sem violência, buscando aprender ferramentas e diferentes olhares, não desonramos nossa família. Pelo contrário. Nós honramos o que de bom nos foi passado. E vamos além, e melhoramos tudo isso. Então, decidir encerrar esse ciclo violento é uma forma de curar não apenas a nós mesmas, mas a tanta gente que veio antes. E, segundo, é importante lembrar que essa visita ao passado, em busca de compreender nosso contexto histórico pessoal e familiar, não deve ser uma prisão. Não devemos ir ao passado e lá permanecer. Quem assim faz, remoendo as dores e mazelas no lugar de utilizá-las como motor de propulsão para sua própria mudança, fica preso lá. Sofre de novo. Perpetua a dor. Porque quando não superamos, corremos o risco de não conseguir nos desvencilhar daquela violência e repeti-la... Que é também o que, em grandessíssima escala, está acontecendo com a sociedade brasileira. Que, por não fazer a revisitação necessária ao passado e permanecer estancada lá atrás, reproduz toda a mazela do que já viveu, perpetuando a dor, a violência e o ódio.

Olhar a própria história e a história coletiva é fundamental para entender quem somos. Mas essa deve ser uma visita breve, crítica e visando a transformação. Do contrário, corremos o risco de nos transformamos nos algozes que tanto criticamos. Olhar. Ressignificar. Transformar. Quebrar o ciclo. Essa também é uma das bases de uma educação e uma vida sem violência.

Cientista Que Virou Mãe - ligia@cientistaqueviroumae.com.br