- Não estou bem... Estou chateada...
- É, eu também...
Era para ser um diálogo. Mas um diálogo é como uma ponte: facilita a ligação entre dois pontos, não faz sentido por si própria, ali, parada. Isso só aumenta o sentimento de solidão das pessoas, saber que uma dor foi compartilhada e sequer foi ouvida. E, no entanto, é dessa maneira que a maior parte de nós está se relacionando.
Quando alguém compartilha uma dor, tem sido muito comum ou a invisibilização dessa dor por quem está ouvindo ou, o que é tão solitário quanto, sua relativização, quando o outro, ao invés de oferecer acolhimento, compara essa dor com uma pior, dizendo: "Não reclame, há gente sofrendo mais". A dor não deixa de existir apenas porque outra pessoa deixa de acolhê-la. Pelo contrário. Ela se amplifica, posto que se soma à dor de não ser visto e ouvido. E quando agimos assim entre nós, que somos adultos, agimos da mesma forma com as crianças: não as vemos, não as acolhemos, não damos importância à dor que sentem.
Há muita gente sofrendo pelo isolamento da quarentena, dizendo que está se sentindo sozinho. Quando, na verdade, muitos vêm nesta solidão há bastante tempo, a despeito da proximidade física. Porque proximidade física não é garantia de companhia, especialmente quando nos relacionamos desta maneira, vendo no outro apenas um depositário das nossas vivências.
Por que reivindicar o fim do isolamento social se nos mantivermos cristalizados nesta postura de não nos ouvirmos?
A quarentena trouxe a concretização da imensa importância que tem o outro em nossas vidas. Uma pena que isso aconteceu pela dor... Mas eis um grande momento para refletirmos sobre a forma como estamos nos relacionando. Ouvimos a dor do outro? Abrimos as portas dos nossos corações quando o outro compartilha conosco a sua dor? Ou estamos apenas interessados na satisfação de nossos próprios desejos?