Por menos dedos apontados. Por mais mãos estendidas. Por levezas. Somente elas.
Hoje eu quebrei uma taça. Ontem quebrei um copo. Sem querer, ao lavar a louça e empilhá-la no escorredor. Ontem marido estava na cozinha e juntou os cacos sem comentar o ocorrido. Continuamos a conversa enquanto ele catava e varria. Eu, sempre descalça, me afastei.
Hoje ele estava na sala e lá permaneceu. Fingiu não ouvir. Fez do jeito que já pedi para fazer. Sabe que detesto quando quebro alguma coisa, derrubo, faço algum barulhão e vem alguém correndo perguntar, machucou? quebrou um copo? o que aconteceu? SE EU PRECISAR DE AJUDA EU GRITO, foi um dia a minha explicação. Ele entendeu. Então dessa vez busquei o chinelo, calcei e fiz a limpeza dos cacos.
Voltei agora na cozinha e reparei que ele mudou o escorredor de pratos de lugar, agora ele não fica mais na pontinha da pia, de forma que os copos que eu lavo se lançam no abismo. Menos acidentes acontecerão. Ele não disse, ''olha aqui mudei o escorredor de lugar porque você é uma desastrada''. Ele sabe que eu sou. Eu sei que eu sou.
Hoje ele só me chamou até a cozinha falando ''está pronto'', na hora do almoço e jantar deliciosos que preparou. Não existiu conversa sobre copos e taças quebradas.
Fiquei pensando nisso. A gente fala tanto sobre a importância do diálogo nas relações, mas sinto que os silêncios também são valiosos. As críticas que poderiam mas não são feitas. As soluções encontradas sem conversa desnecessária, só dando um jeito. O juntar os cacos dos erros e continuar. Tem algo de bonito nessa forma de entendimento mudo.
Penso que vale para relações de todo tipo. Será que é preciso mesmo apontar para uma pessoa que cometeu uma pequena falha que ela falhou sendo que ela já sabe disso? Tem horas que não ouvir nenhuma palavra é tão reconfortante.
(Texto de Silvia Amélia Araújo)