Ouço isso com uma frequência imensa. Por vários motivos: porque sou tatuada, porque sou desbocada, porque sou muito simples no jeito de cuidar das crianças, porque não complico e uso de transparência e honestidade na educação da minha filha, porque prefiro explicações reais a explicações no estilo "virou uma estrelinha", porque ensino política, porque discutimos sobre fascismo, racismo, machismo, sobre desigualdades sociais, porque não desmamei cedo, porque me abaixo pra conversar com ela (agora nem tanto, porque a bichinha tá crescendo que nem mato), porque nunca ofereci refrigerante, porque converso com ela respeitando sua idade, porque nunca a agredi de nenhuma forma, etc., etc., etc.
Vejam: não há nenhum juízo de valor aqui, apenas características da nossa forma de viver e que as pessoas julgam serem diferentes. Mas, para mim, para ela, não são diferentes. É a nossa vida, é como somos, como vivemos, nosso jeito de ocupar o mundo. Quando alguém te diz: "Nossa, você é diferente!", normalmente está querendo dizer: "Você é diferente de mim e isso me causa estranhamento".
O que é diferente não precisa causar estranhamento, pelo contrário. Diferença deve gerar empatia, compreensão, respeito e solidariedade, não estranhamento - desde que não cause mal aos outros. Um mundo que estranha a diferença é um mundo em busca de um padrão, de uma normalidade, no sentido matemático. Eu não tenho problema nenhum em ser diferente porque reconheço a existência de 7 bilhões de diferenças neste lugar onde vivemos. Cada um é como é, como está se tornando, posto que estamos nesse processo de um contínuo vir-a-ser, como diria o grande mestre Paulo Freire.
Se te dizem "Nossa, como você é diferente", num tom de crítica negativa, não se irrite, nem tente mudar o seu comportamento para se aproximar de quem te julga. Ser diferente é uma dádiva.
Parte do meu trabalho também é isso: apoiar mulheres mães para que assumam suas diferenças.
Contato: ligia@cientistaqueviroumae.com.br