sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Lobato ensina gramática de Hilton Gorresen

No início de minha adolescência, um vizinho adquiriu a coleção de livros infantojuvenis do Monteiro Lobato para as filhas lerem. Ignoro se elas chegaram a ler algum dos volumes, mas eu li todos. Todas as tardes, enquanto o casal se embrenhava com os amigos numa partida de canastra, eu entrava de cabeça nas aventuras da turminha do Sítio do Picapau Amarelo e nas lições de Dona Benta. Ali se aprendia de tudo, história, geografia, mitologia, lendas, crendices e até língua portuguesa.

Lobato criou a genuína literatura infantil brasileira, não deixando de “meter a colher” – numa atitude própria de sua personagem, a irreverente boneca Emília – nos domínios de outros autores. Em sua obra, há lugar tanto para o lendário Saci Pererê quanto para um rinoceronte, apelidado de Quindim; seus pequenos heróis compactuam com personagens fictícias, históricas e mitológicas.

Anos atrás, numa feira de livros em Brasília, encontrei um alentado volume dedicado ao centenário do nascimento de Lobato, contendo todas suas obras infantis. Não titubeei em comprá-lo, na generosa intenção de que os filhos também conhecessem aquele tesouro. Talvez porque segurar aquele livrão cansava as mãos, ou por falta de interesse mesmo, ninguém o leu. O livro continuava virgem quando o doei a uma biblioteca.

Mas um dia encontrei num sebo uma edição de “Emília no país da Gramática”, um dos melhores “manuais” de língua portuguesa (não só) para os jovens. O leitor aprende ricas noções sobre a Língua enquanto se diverte com a turminha. Acabei adquirindo o volume, com a esperança de que pelo menos minha neta possa lê-lo daqui a alguns anos. Mas quem o acabou (re) lendo fui eu mesmo. A edição era comentada com atualizações, visto que desde os tempos do Lobato houve modificações na nomenclatura gramatical e mesmo em alguns conceitos.

Montados no rinoceronte Quindim, lá foram Pedrinho, Narizinho, Emília e o Visconde visitar o país da Gramática. Com claras e divertidas explicações, interagindo com os próprios seres que personalizavam as palavras, acabaram aprendendo sobre fonética, ortografia, morfologia, sintaxe e até etimologia. Não duvido que o pequeno (ou mesmo o grande) leitor também chegue a esse conhecimento com facilidade.

Se você se interessar pela leitura, é bom providenciar um volume logo, antes que essa obra também seja censurada. Motivos não faltam: posse e exploração de animal selvagem e até grave preconceito sexual – onde já se viu denominar um animal portentoso como o rinoceronte de Quindim?