domingo, 9 de setembro de 2018

Você é muito bacana, mas... por Hilton Görresen

Tenho muito medo da palavrinha “mas”. Quando a ouço, sinto as pernas tremerem, o suor a escorrer, um calor afluindo para o rosto. Em seus sermões, o padre Antonio Vieira dizia: terrível palavra é um “não”. E eu acrescento: terrível palavra é também um “mas”. É um pé na bunda com adoçante. Quando a ouvir, você nem precisa prestar atenção ao restante da frase (a não ser que esteja com defeito no desconfiômetro), considere-se despedido, recusado, chutado...

Você certamente já ouviu de um namorado ou de uma namorada: você é muito bacana, mas... Ou de seu chefe: Fulano, você é um ótimo funcionário, mas... Ao ouvir esse “mas”, você já se ouriça todo, pois aí é que vem o que a pessoa quer dizer a seu respeito. Normalmente, é o prenúncio de um fora, não acha? É aquele negócio de dizer que “o gato subiu no telhado...”, conforme uma conhecida anedota, para afinal dizer que o gatinho havia morrido.

Quantas e quantas vezes fiquei com o telefone colado ao ouvido aguardando uma boa resposta para alguma solicitação, e tive a angústia de sentir por perto, preparando o bote, aquela palavrinha frustrante, desesperadora.

O “mas” é um estopim aceso, indicando que aí vem uma explosão. As primeiras palavras são o adoçante. O “mas” é o amargor que vem na boca depois de consumido o adoçante. 

Estou disposto a iniciar um movimento, com faixas e tudo, para que dita palavra seja, nas futuras gramáticas, transferida da categoria de adversativa para a de negativa, uma negativa politicamente correta. Como adversativa, opõe uma frase a outra, com destaque para a frase que se posiciona por último. E é isso que nos fere, porque a última frase vem quase sempre com significado negativo. 

Você já imaginou como seríamos mais felizes se tal situação fosse invertida? Você foi mal nas provas, mas é um aluno inteligente, esforçado. A empresa não necessita mais de seus serviços, mas você sempre foi um ótimo funcionário. É como se o cara fosse despedido com honra.

Não é de se babar de orgulho e contentamento (não exagera, cronista) ouvindo tais palavras? A pessoa sente que está sendo absolvida e não condenada por um fato eventual; não carregará, portanto, o fardo do fracasso.

Na Neurolinguística, sugere-se trocar o MAS por um E. Fulano é inteligente e foi mal nas provas. Isso não resolve o problema das notas, mas a oposição não soará tão drástica.