Há 2 anos a língua é a mesma, mas é outra.
Há 2 anos os piás são putos, a galera é malta e mina gata é miúda gira.
A bera é jola, o litrão é litrosa e a tampinha é carica.
Há 2 anos ter graça é ter piada, uma parada é uma cena e se for massa é porreira.
Há 2 anos o pique é pica e a pica é pila, as bolas são tomates
e as gurias, ou melhor, as raparigas têm pipi e usam cueca.
Há 2 anos os maloqueiros são mitras, os nerds são cromos, as piriguetes são porquitchonas
os mauricinhos são betos e os puxa-sacos são lambe-cus.
No futebol?
Baliza, balneário, relvado, guarda-redes, pontapé, plantel, claques, adeptos, remate, golooooo!
Só se fala a mesma língua nos pés.
Há 2 anos moto é mota, carona é boleia e kombi é pão de forma.
Privada é sanita, cocô é cocó e descarga é autoclismo.
Bituca é beata, seda é mortalha e chapado é mocado.
Carpete é alcatifa, isopor é esferovite e estilete é “xisato”.
Um bobo é um parvo, um tolo é um totó e o totó... matraquilhos.
E se acha que eu tô enchendo linguiça, tá enganado.
Aqui, o que se enche é o chouriço.
E os pratos têm bom aspeto e sabem bem.
Há 2 anos o aqui é cá e o até mais é até já
e se calhar eu já sei diferenciar o pá do epá do opá e do elaaa!
Aqui, posso dizer “vou ter contigo” e “estou a gozar” até mesmo para uma freira.
E dizer “foda-sssee!”, bem, é diferente.
E há coisas que fazem mais sentido como o termo ser “perdidos & achados”, e não “achados & perdidos”.
Há 2 anos o mixuruca é manhoso, e o fuleiro é chunga.
Um trilhão é um bilião, lugar é sítio, sítio é quinta e um lugar qualquer, algures.
E se tá achando este textão um saco, sinto muito, mas aqui se diz “uma seca”.
Se quiser, mande uns pitacos, digo, bitaites.
E se não gostou, eu tô nem aí. Ou melhor, estou-me a borrifar.
É claro que viver cá nem sempre é fácil. Às vezes é um bocado lixado, tás a ver?
Haja paciência, ou melhor, pachorra. Mas geralmente é mesmo bué da fixe!
Então, se quiser vir a Portugal, esteja à vontade mas lembre-se que “à vontade não é à vontadinha”.
E prepare-se para uma experiência do caraças.
Porque nestes 2 anos eu percebi que a língua pode até ser a mesma, mas é outra.
E que eu posso até ser o mesmo, mas já sou outro.