As novidades e as tendências mudam a cada dez minutos na internet e é preciso estar atento para não ficar à deriva nesse mar de memes e hashtags. Nem tudo (ou quase nada) se aproveita, é verdade. Mas quem disse que é preciso colocar o bufê inteiro no prato?
A onda mais recente, até dez minutos atrás, era #10yearschallenge. Sim, brasileiros, o idioma inglês domina o mundo virtual, como não é diferente na vida real (e eu sonhando que o esperanto seja o idioma sem território da humanidade!).
A tal hashtag propõe que você coloque lado a lado duas fotos, uma de 2009 e outra de 2019, para mostrar a diferença que o tempo fez em sua face. A brincadeira caiu no gosto de milhões de pessoas e, até ontem, mais de dois milhões de postagens haviam sido feitas. Acontece, e é aí que o ser humano pode surpreender positivamente, que pessoas com mais senso crítico e menos anseio por exposição puseram-se a postar temas relevantes para a sociedade. Vamos ser sinceros, além da curiosidade, saber se você ganhou rugas ou fios brancos em dez anos não é lá grande coisa, a menos para você.
Entre as postagens mais interessantes e desafiadoras estão as que apresentam uma geleira em 2009 e em 2019, com visível diferença de volume, e a que mostra a água do rio Doce dez anos atrás e a lama que ainda habita Mariana. Há também as que mostram as diferenças nas políticas sociais e, convenhamos, 2009 apresenta imagem muito mais animadora do que 2019, em que a discussão gira em torno de armas, num governo que até agora não demonstrou muita habilidade de gestão.
Estou levando a sério o que é para ser só uma brincadeira, talvez você diga, mas vejo nisso aí uma grande oportunidade de se fazer um levantamento, se não de aspectos sociais, mas de nossas vidas. Ou não somos nós células de uma imensa cadeia a refletir ações isoladas? Que tal olharmos para trás, percorrer a década que se passou e identificar avanços pessoais ou retrocessos ou estagnação?
Que tal olharmos para o mundo e avaliarmos o caminho que estamos traçando? Tendo em vista que, de certo, apenas a finitude de cada um; e de esperança, uma nova oportunidade quando tudo aqui acabar. Se sua face mudou em dez anos e, provavelmente, não foi para melhor, que tal enxergarmos o que a alma mudou nesse período de tempo?
Alma, ao contrário do corpo, permite o resgate da beleza. (Crônica publicada no jornal A Notícia, em 18/01/19)