“Queridos filhos,
Escrevo do ano de 2020.
Vocês já devem ter lido sobre ele nos livros de História. Mas há detalhes que não são narrados. Por isso quis contar.
(...)
Não sou professora, psicóloga, coleguinha de turma, chef de cozinha ou artesã.
(Que alívio admitir pra alguém).
Mas a mamãe tentou.
No ar há medo, esperança, possivelmente louça e roupa suja (dois fenômenos da quarentena), ansiedade. Esta última tá punk.
Mas a mamãe tentou.
Eu tenho muitas dúvidas. Algumas guardo pra mim. Tá tudo tão estranho que a gente se sente mal até por sentir. É o contraste das notícias com os nossos privilégios.
Fica fácil esquecer que compaixão não é caixa de bombom que acaba. Que é possível ser empática com os outros e gentil conosco.
Mas a mamãe tentou.
É isso que vocês precisam saber.
Que a mamãe tentou cuidar de vocês, da família, de nós.
Que tentou com malabarismos, calças de pijama e mudanças repentinas de humor.
Que a mamãe tentou com quebra-cabeças, televisão, chamadas de vídeo e muita saudade do mundo.
Que tentou inventando moda. E que se arrependeu minutos depois por causa da bagunça.
Que a mamãe tentou ler o futuro e simular cenários. Que tentou confiante e pequenininha, do chão da sala e do escuro do quarto.
Que a mamãe tentou que o nosso porto continuasse seguro e os olhinhos de vocês continuassem brilhando.
Que a mamãe tentou ser coisas que ela não é.
E que é difícil. E que há chances de não ter funcionado.
Mas a mamãe tentou assim mesmo.
E é assim, com esse tentar, que estamos passando por tudo isso.
Que fortalecemos o nosso elo e que reinventamos os nossos abraços”.