quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Instituto TeApoio em Comunicação não-violenta

A cena a seguir se passa num aeroporto, já tarde da noite. Mãe e filho estão cansados, aguardando o pai da criança pegá-los para voltarem para casa.

- Mamãe, quero colo. 
- Filho, eu preciso dos dois braços para te dar colo. Com tanta bolsa, não vou conseguir agora, desculpe.

Ao ouvir que não poderia ter colo naquela hora, a criança chora. E grita também, claro. Afinal de contas, no auge dos seus 4 anos quer extravasar toda a sua frustração a plenos pulmões.

A mãe fica envergonhada diante da reação do filho. E irritada. Logo ela que sempre dá colo, precisa mesmo passar por isso agora? Ela pensava.

Tenta se controlar, mas chega uma hora que o cansaço toma conta. Ela olha para ele firmemente e num tom acima do que costuma usar, dá uma bronca, pedindo para ele parar de chorar.

Eu conheço a mãe em questão. A criança também. Ela teve o privilégio de ser cercada de amor, respeito e de uma educação não-violenta desde que chegou ao mundo. E isso contribui muito para a sua rica educação emocional.

Finalmente encontram o pai, que pergunta:
- Tudo bem, filho?
- Não. Eu estou muito magoado. A mamãe me deu uma super bronca só porque eu queria colo.

A mãe participa da conversa.
- Filho, eu estou muito cansada. Só queria que você entendesse isso, eu não quis te magoar. Desculpe se falei mais alto com você.
- E eu também só queria que você entendesse que eu também estou cansado e precisava de colo.
- Mas filho...
- Mamãe, eu não consigo conversar agora. Preciso de um tempo.

A mãe respeita. E ele vai mesmo quetinho durante todo o trajeto de volta para casa, como quem está sentindo o que há para sentir até encontrar o seu ponto de equilíbrio novamente.

Já em casa, depois de descansar um pouco, ele diz:
- Mamãe, já estou melhor agora. Está tudo bem, tá mamãe? Não estou mais magoado. Eu entendi.

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Não é um diálogo comum entre adultos e crianças e talvez até te cause estranhamento ler isso. E tudo bem: é diferente mesmo da forma como costumamos nos comunicar.

E justamente por isso, pense no seguinte:
Quando foi a última vez que você conseguiu se sentir magoado(a) e ao invés de se descontrolar e sair ferindo todo mundo por isso, você simplesmente pediu um tempo, voltou ao seu estado normal e depois avisou que já estava tudo bem ou resolveu a situação com um diálogo aberto e amoroso?

Nossa geração não teve acesso a educação emocional. Essa geração pode ter.
E nós podemos nos inventar e nos reiventar sempre para dar a eles o que precisam e merecem.