Seria uma consulta habitual, daquelas que o médico diz "pode sentar" apontando para a cadeira enquanto anota qualquer coisa numa ficha de alguém que ele não lembra o rosto.
Seria, se a paciente que entrou na sala não fosse minha mãe.
Ouvi o relato dela e de meu pai ontem durante o almoço.
30 minutos antes...
– Oi, pai, sou eu.
– Oi, Juju, tô descendo.
Espero um pouco e ele chega para abrir a porta de vidro que me separa do arroz com feijão e carne com legumes que Dona Marlene preparou. Ao entrar, percebo folhas muito verdes e em abundância sobre o aparador. Eles percebem meu olhar de indagação e põem-se a contar sobre a consulta daquela manhã, no posto de saúde.
– Então, filho. Fui no médico e falei da minha dor no joelho, contei pra ele que li sobre o caroço de abacate: a gente deixa secar até a casca soltar, que nem casca de amendoim, depois, pega o caroço e tritura até virar um pozinho, torra um pouco como se fosse uma farofa. A gente pode colocar na comida ou fazer chá e tomar duas vezes por dia. Ele me ouviu bem atento e falou pra gente fazer o teste por dois meses. Se der certo, acredita que ele falou que vai colocar um cartaz no consultório para as pessoas saberem? Sério! Ele gosta muito dessas soluções alternativas. Aí eu falei do diabetes. Lembra quando a gente morava em Balneário Camboriú, que a Dona Armênia me ensinou a tomar chá de folha de amora? Nossa, foi um santo remédio! Meu nível glicêmico baixou pra cem. Eu contei isso pra ele, ele me ouvia segurando na minha mão, sabe? Muito paciente...
Seu Domingos interrompe
– Eu lá fora esperando e ela de mãos dadas com o médico. Vai vendo...
– Seu besta! – ela retruca e continua – ele me ouviu falar sobre a folha da amora e disse que prefere mesmo esses tratamentos do que ficar receitando remédio. Depois, falou pra eu ir com ele até lá fora. No terreno do fundo do postinho tem um pé de amora. Tão bonito! Ele disse "Pode pegar as folhas, faz o chá e me diz como ficou seu nível glicêmico". Daí eu trouxe essas folhas aí. Daqui a pouco vou fazer, em infusão.
– E o senhor também consultou, pai? – pergunto.
– Aham. Falei que a pressão continua alta.
– E o que ele falou?
– Pra eu conversar com sua mãe.
(texto publicado em 08/11/2018, no jornal A Notícia)