Casamentos se acabam. Mas não eram assim. Antes, feitos para durar. Agenor, o pequeno fazendeiro, acreditava na vida a dois até a morte. Mas, ao chegar das plantações, naquela tarde, suado e sujo de terra, encontrou a casa vazia. Sobre a mesa da cozinha, uma carta-bilhete. A mulher desertara. Amava-a perdidamente. Foi um soco no escuro, no meio da testa. Lembrou-se das palavras da mãe: “Essa mulher cheira a perfumes. Não é pra você. Mulher da cidade não aguenta o repuxo”. Bateu o pé, teimoso. Amava-a. agora, o mundo veio abaixo.
“Não sou mulher-tatu, que revira a terra. Detesto horta, galinhas, porcos, vacas leiteiras. Fui tola.” Agenor não acreditava no que lia, as mãos trêmulas. “Neste fim de mundo, não tem internet, WhatsApp, Instagram, Facebook. Nasci pra estar conectada. Você quer que eu cuide de galinhas, hortas, porcos, vacas, fogão. Pra mim, chega! Ainda quer que eu vá à igreja aos domingos. Sou uma mulher moderna.”
Lia e relia. Chorava. Lembrava-se das palavras da mãe. Meses depois, a visita do advogado: a fujona queria a parte da terra que ele herdara...