Me too.
Esse mês você provavelmente tenha visto esta frase nas redes sociais. “Me too” – ou “eu também”, em tradução – é uma campanha que visa expor a magnitude do assédio e consequentemente do machismo na sociedade.
A ideia da campanha é que todas as pessoas que em algum momento já sofreram qualquer tipo de abuso ou assédio postassem a tag #MeToo, podendo compartilhar suas histórias ou apenas indicar que já tinham vivenciado estas situações. As redes sociais foram invadidas por relatos e o tema voltou a ser discutido em âmbito global.
A iniciativa foi uma resposta pública logo após que um poderoso produtor cinematográfico americano foi acusado por diversas atrizes de cometer assédio e abuso sexual. Mas isso não é um problema regional. Segundo uma pesquisa feito pelo Instituto YouGov que foi publicada pela Action Aid 86% das mulheres brasileiras que participaram do estudo sofreram assédio em público em suas cidades. Ainda este ano, em setembro, um homem foi preso em flagrante dentro de um ônibus na Avenida Paulista após ejacular em uma mulher.
O problema é que a maioria das pessoas sempre soube que assédios e abusos acontecem diariamente. Os homens sempre viram a violência de gênero acontecendo ao redor deles (e / ou sendo perpetrada por eles) e simplesmente não fizeram nada sobre isso. A desigualdade de gênero não é algo que surgiu agora pois está intrinsecamente ligada à estrutura patriarcal. Não é responsabilidade das mulheres alertar os homens, pois eles já sabem que essa questão existe. Nós já temos que enfrentar diversas barreiras diariamente pelo simples fato de sermos mulheres e não deve ser posto sob nossos ombros mais esta obrigação, de explicar o que todos já sabem e fingem não ver.
A campanha Me Too é útil para vermos que não estamos sozinhas, que não somos menos e talvez até sirva para estimular futuras ações. Mas o ativismo de cadeira em mídias sociais não vai fazer o problema desaparecer, ações vão. Umas semanas atrás um colega fez um comentário machista durante uma roda de conversa e mesmo depois de ser educadamente alertado que aquilo tinha sido ofensivo ele disse que sabia que ia ofender, mas que não conseguiu segurar. Quando esta campanha foi lançada eu só consegui pensar em todas as vezes – incluindo esta – que eu me senti menos e menor pelo simples fato de ser mulher e ao observar a minha rede de amizade que participou da campanha pude ver que o machismo não escolhe raça nem classe social, apesar da quantidade maior de vítimas serem minorias.
Nós, jovens, somos a geração que pode transformar o impossível em realidade. Temos acesso à informação e estamos passando por uma onda de empoderamento sem precedentes. Que estas campanhas além de alertar se tornem catalizadores de boas ações, pois nós também podemos fazer mais, nós podemos alcançar a Igualdade de Gênero.
Alícia Amancio, 20 anos. Acadêmica do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina e integrante do coletivo Clímax Brasil. Engajada nas causas ambientais e desde muito nova anda por esse mundo mostrando que a juventude é parte da solução. Foto: CBC News