domingo, 20 de setembro de 2020

É um longo caminho a Tipperary - Hilton Görresen

Pra começo de conversa, nunca fui a Tipperary, nem sei onde fica esse lugar. É o título de uma das músicas preferidas dos soldados americanos na Segunda Guerra. É um longo, longo caminho a Tipperary, mas lá os espera uma linda garota. Quem não vê nisso um regresso a Bountiful, local onde se passou uma infância e uma mocidade felizes, onde se conheceu o amor, onde se teve as primeiras e sinceras amizades? Mas Bountiful já não existe, tornou-se um lugar abandonado, inóspito. Assim como muitos dos soldados não puderam reencontrar sua Tipperary.
Me deixam nostálgico textos, músicas ou filmes que falam de alguém deixando algum lugar ou (principalmente) voltando a ele. Será a eterna busca de um paraíso inexistente? Do lugar ideal para deixar escorrer a vida?
Partir e regressar são dois lados da mesma moeda. Quem parte, deixa para trás amigos, amores, infância; quem regressa, busca a ilusão de recuperar tudo isso, convicto de que “era feliz e não sabia”.
Uma das músicas que falam desse tipo de saudades é o eterno “Luar do Sertão”. Ai que saudade do luar da minha terra... Até a onça na verde capoeira veste um traje nostálgico e nos faz percorrer sem medo as grotas noturnas.
Outras músicas de meus verdes anos fazem sacudir a alma: “Adeus, escola querida”, uma adaptação de melodia sertaneja, cantada nas formaturas do curso primário. E a melodia que cantávamos nas aulas de Canto Orfeônico no antigo Ginásio Santa Catarina: Adeus Guacira. Guacira é um pedacinho de terra, um pé de serra que ninguém sabe onde está. 
Das melodias americanas, “Greenfields” me abala afetivamente. Somente o nome, verdes campos, já agride com um quê de saudosismo; quem não haveria de querer um greenfield para onde regressar. 
A romântica Serra da Boa Esperança ficou no coração e no olhar de seu filho Lamartine Babo nesta bela canção de despedida: ó, minha serra, eis a hora do adeus, vou-me embora... Ataulfo Alves não conseguiu se livrar de seu pequenino Miraí, onde era feliz e não sabia.
Quem voltou a um local de nome indefinido foi o cantor e compositor Osvaldo Nunes, hoje esquecido por muitos: voltei, aqui é meu lugar. Nisso foi seguido por ninguém menos que Roberto Carlos: eu voltei, agora pra ficar, porque aqui, aqui é meu lugar...
Como em um filme, a partida é um começo de vida, a volta é um fim, amarga ou vitoriosa, mas sempre bela. Também como nos filmes, o que é belo não vai além do “the end”. Depois dele, só Deus sabe...