quinta-feira, 27 de agosto de 2020

A arte chinesa e a arte grega, Rumi

Disse o Profeta, “Há alguns que me veem
sob a mesma luz que os vejo.
Nossas naturezas são unas.

Sem referência a linhagens
de parentesco, sem referência a textos e tradições,
nós bebemos o mesmo líquido da vida, juntos.”

Eis uma história sobre este mistério oculto:

Os chineses e os gregos estavam debatendo sobre quais seriam os melhores artistas.
O rei então disse, “Resolveremos tal questão com um debate”.
Os chineses começaram a falar,
mas os gregos nada diziam.
E foram embora.

Os chineses então sugeriram que a cada grupo fosse dado em salão
para que pudessem trabalhar em sua arte,
dois salões voltados um para o outro, separados por uma cortina.

Os chineses pediram ao rei por uma centena de cores, todas as variantes,
e a cada manhã eles voltavam onde as tintas eram deixadas
e as pegavam todas.
Os gregos não pegavam tinta alguma.
“Elas não são parte do nosso trabalho”.

Eles foram para o seu salão e começaram a limpar e polir as paredes.
Todo dia, a cada dia, tentavam deixar as paredes puras e límpidas
como o céu aberto.

Há um caminho que parte de todas as cores para a ausência de cor.
Saiba que a magnífica variedade das nuvens e do clima
vêm da simplicidade total do sol e da lua.

Os chineses concluíram sua arte, e estavam muito felizes.
Bateram seus tambores pela alegria da conclusão.
O rei entrou em seu salão,
espantado pelas cores maravilhosas e pelos detalhes.

Os gregos subiram a cortina que dividia os ambientes.
As imagens e figuras chinesas refletiram cintilantes
nos muros vazios dos gregos. Elas viviam lá,
ainda mais belas, e sempre
se modificando junto com a luz.

A arte grega é o caminho sufi.
Eles não estudam livros ou pensamento filosófico.

Eles fazem seu amor puro e cada vez mais límpido.
Sem desejos, sem raiva. Nessa pureza
eles recebem e refletem as imagens de cada momento,
daqui, das estrelas, do vazio.

Eles as absorvem
como se estivessem a ver
sob a mesma luminosidade
que os observa.

Sob sua luz eu aprendi como amar.
Ante sua beleza, como compor poemas.

Você dança em meu peito,
onde ninguém o vê,

por vezes tenho lhe visto,
e isto que contemplo torna-se minha arte.