sexta-feira, 3 de julho de 2020

Gatos pretos e superstição por Milton Maciel

Trazidos pelos romanos do Egito, onde eram animais sagrados, os gatos foram considerados muito úteis pelos europeus, porque comiam ratos, escorpiões, cobras e muitos outros predadores das plantações.
Mas na Idade Média, em 1233, o papa Gregório IX emitiu a bula “Vox in Rama” em que associou os gatos, especialmente os pretos, a rituais de satanismo e bruxaria. Ter um gato em casa tornou-se comprometedor e, se ele fosse preto, a acusação de bruxaria para mulheres e satanismo para homens virou um risco grande demais.
Isso foi suficiente para que uma onda de eliminação em massa dos gatos acontecesse. Não só os gatos pretos, mas os demais passaram a ser vistos pelos supersticiosos europeus como as fontes de todos os males. Esse morticínio dos gatos piorou muito quando, uns 100 anos depois, em 1347, com a chegada da Peste Negra (bubônica) à Europa, os homens atribuíram, para variar, a culpa aos gatos. Foi um verdadeiro genocídio, diminuindo ainda mais a população já muito rarefeita de felinos na Europa.
A Peste Negra, que mataria 200 milhões de pessoas em 5 anos (1347 a 1352), chegou a bordo de navios que vinham da Ásia. Deles saíram os ratos, que se multiplicaram nas cidades portuárias europeias com uma velocidade vertiginosa, porque nelas não havia mais predadores – os gatos. Acontece que (algo impossível de saber-se à época) a Peste Bubônica é causada pela bactéria yersinia pestis, transmitida pelas picadas das pulgas que vivem nos ratos!
Ou seja, por ignorância religiosa e superstição, os europeus eliminaram em massa justamente os únicos animais que os poderiam ter defendido da morte negra. E ainda satanizaram os gatos pretos para sempre.