O que uma criança faz nos primeiros três anos é mais importante do que tudo o que ela faz depois, pelo resto da vida. Isso não quer dizer que não haja oportunidades para mudar as coisas mais tarde, mas o começo da vida tem efeitos mais profundos e duradouros do que quase qualquer esforço posterior.
A criança nasce com a predisposição para se adaptar a qualquer cenário que encontre. Seu cérebro vem cheio de neurônios, mas com pouquíssimas sinapses. Em bom português: o cérebro está lá, mas flexível o suficiente para formar todas as suas ligações a partir das experiências vividas pela criança. Desde cores e cheiros até dinâmicas emocionais e percepção de segurança no mundo. O cérebro tem sede de experiências, e a personalidade da criança se forma a partir da matéria prima de tudo aquilo que ela vive, de fascinante e de terrível. As consequências disso duram a vida toda.
Se é verdade que o destino de uma vida não é traçado por completo nos primeiros anos, também é verdade que a influência desses anos dura para sempre.
A criança de zero a três anos atravessa enormes desafios e faz conquistas importantes. Para cada uma delas, vamos fazer uma abordagem inicial aqui, e recomendamos que você estude muito mais a fundo:
O nascimento – a criança deve nascer em paz. Em um ambiente no qual os pais se sintam seguros, e com adultos que compreendam que, para além da segurança básica da vida da criança, é fundamental proteger o seu bem-estar nessa chegada ao mundo. Luz, temperatura, contato com o corpo da mãe, respeito ao tempo e ao corpo são aspectos que devem estar sempre presentes em nossas considerações de um parto que seja uma cerimônia de boas-vindas.
Alimentar-se – quando chega perto dos seis meses, a criança passa a complementar a amamentação com alimentos sólidos. É importante que a criança possa conhecer alimentos de verdade, não seja nutrida só de industrializados com sabores misturados e artificiais, e que possa conquistar autonomia gradativa em uma relação íntima e saudável com a comida. Seus tempos, sua fome, seus gostos devem ser respeitados, mesmo diante da necessidade de se apresentar novidades e de uma alimentação equilibrada e regular.
Falar – quando começa a falar, a criança precisa ser escutada. Precisa que falemos com ela, sim, mas mais que isso, é necessário interagir. Ela fala também, e nós mostramos que entendemos. Nós contamos histórias do dia e da vida, dizemos o que fazemos com ela (no banho) e para ela (na cozinha) e cantamos junto. Mas quando ela fala palavras, nós devemos nos esforçar para entender, traduzir e executar, quando necessários, seus pedidos, para que ela perceba que suas palavras têm efeito no mundo. Conversar e ouvir, além de falar, são atitudes importantes para a construção de uma relação saudável com a comunicação.
Caminhar – caminhar é a primeira independência da criança que a leva para longe de nós. E ela deve poder ir quão longe quanto quiser, e retornar. Nós podemos seguir de vez em quando, mas em geral, nós esperamos, para que essa independência seja genuína. As crianças precisam caminhar muito, para além das paredes da casa. Caminhadas longas, lentas e cheias de pausas são perfeitas para os de dois anos. Carregar coisas enquanto caminham, subir e descer degraus, escalar e correr são evoluções da caminhada simples, e devem ser respeitadas.
Uma criança precisa de chances para se desenvolver plenamente. Se pudermos entender as necessidades de nossos filhos, e oferecer a eles três primeiros anos brilhantes, a vida tem uma chance muito maior de ser uma enorme aventura, cheia de desafios, mas cheia de amor e felicidade. Está em nossas mãos garantir, não só para nossos filhos, mas para todas as crianças do mundo, que os anos mais importantes de suas vidas serão considerados com toda a reverência necessária. Assim, daremos a eles a chance de construir, com esforços de que só as crianças são capazes, uma nova humanidade, muito mais feliz.