Vivemos, infelizmente, em um mundo que nos hiperestimula. Nossa comida tem muito sal, muito açúcar e muita gordura. Nossa tecnologia tem muita luz e muito som. Nossas cidades têm imagens demais, barulho demais, fumaça demais. Nossas propagandas têm mensagens demais, e nossos produtos têm propaganda demais. Nossas redes são sociais demais, e nós, bom, nós alimentamos tudo isso porque somos sozinhos demais, e o excesso de estímulo nos dá a cansativa impressão de estarmos fazendo alguma coisa, nos sacia enganadoramente a ânsia de estarmos com alguém, fazendo algo que faz sentido. Vivendo nesse mundo, imersos em hiperestímulo, é reflexo natural que acreditemos que devemos estimular crianças.
Estimulamos demais porque queremos mais e mais cedo. Queremos que elas leiam mais e mais cedo, que falem mais e mais cedo, que andem mais e mais cedo, que associem mais e mais cedo, que lembrem, contem, calculem, conversem, entendam, percebam, peguem, montem, conquistem, entrem, acumulem, tenham e tenham sucesso, mais e mais cedo. E nós acreditamos que, primeiro, isso é bom, que, segundo, é o único jeito de dar certo no mundo de hoje e, terceiro, que pelo menos não vai fazer mal nenhum. Há quem viva pensando que menos é mais. Para a maior parte de nós, no entanto, mais é mais mesmo.
Montessori foi muito clara: para a criança, a vida é suficiente. Testemunhar a vida (primeiros meses), conquistar a vida (primeiros anos), participar da vida (toda a infância), questionar a vida (do meio para o fim da infância e a adolescência), contribuir para a vida (adolescência madura e juventude) e modificar a vida (juventude e maturidade). Nessa ordem. A vida basta.