Sou franco em dizer: não me considero bom de conversa. A timidez e a ansiedade me atrapalham. Mas admiro a conversa harmoniosa, seja íntima ou social, com cada um falando a seu turno, sem cobranças ou contestações.
Existem tipos diversos de participantes em uma conversa. Já me identifiquei com o tímido, que mais ouve do que fala. Assim, todos têm a impressão de que sou inteligente.
Outro tipo, ao contrário, é aquele que quer dominar a conversa. Chega-se ao grupo com estardalhaço, envolve com os braços os mais próximos, criando um círculo ao redor de si. Começa contando uma anedota ou um caso divertido. Normalmente, esse tipo é provido de um ego enorme. Se resolver pular de cima de seu ego, o tombo pode ser fatal.
Tipo semelhante é o “conta-prosa”. Já fez de tudo, bebeu todas, transou com todas. Come mexirica e arrota grapefruit. Quando ele se aproxima, a turma comenta: se preparem, aí vem o Fulano!
Com dois tipos não simpatizo muito. Um é o “você devia”. Está sempre achando que pode modificar o interlocutor, o que é o mesmo que julgar e condenar seus procedimentos. “Você devia ser mais rigoroso com seus filhos, mais firme com seus subordinados...”. “Você devia parar de beber, de trabalhar tanto...”.
Outro é o contestador. Com esse não se pode manter uma conversa leve, social, pejada de amenidades. Tudo que você fala, ele tem o gostinho de contestar. Mesmo que você repita o que ele próprio falou dias antes. Você diz “bom dia”, e ele “bom dia, uma ova; com este tempo e este governo, quem pode ter um bom dia?”. Se você detesta conflitos, Deus lhe guarde de ter pela frente um contestador.
Outro interlocutor desagradável é aquele que lhe faz perguntas, mas não espera a resposta. Certamente, para ele, o que você irá dizer não é importante, é apenas uma maneira de dialogar com ele mesmo. Mas existe outro tipo, aquele que, após você falar, continua lhe encarando – como que esperando que acrescente mais alguma coisa –, o que cria uma situação constrangedora. Esse não tem desconfiômetro, não percebe que você já lhe passou a bola ou transferiu o turno, como dizem os linguistas.
Existe também o tipo “meloso”, que lhe agarra o braço ou os ombros e aproxima seu rosto pra cá da distância permitida pelas normas da boa conversação. Sem mais, entra na sua área íntima, aquela apenas admitida aos namorados e namoradas. O pior mesmo é quando o meloso não escovou os dentes ou se encontra no estágio do quinto ou sexto chope.
E fim de conversa.