Quando entrei, o consultório estava apinhado de gente. Calmamente, por trás do balcão, a secretária atendia a três ou quatro clientes que aguardavam ao redor. Quando se dispersaram, perguntei:
– O Dr. Carranza está atendendo?
– Sim. O senhor aguarde um instante, por favor. Eu lhe chamarei.
Consegui um lugarzinho apertado entre uma senhora gorda e um jovem entretido com seu smartphone. Como percebi que iria demorar um pouco, me levantei e escolhi, numa mesinha de tampo de vidro, uma revista do mês anterior e passei a folheá-la.
Após mais de uma hora, outra secretária, de jaleco branco, me chamou e me fez entrar numa salinha ao lado. Primeiro subi numa balança e ela registrou meu peso e altura. Depois me pediu para sentar e mediu a pressão.
Voltei à sala de espera.
Foram chamados mais uns três clientes. Quando já ia me levantar, impaciente, a segunda secretária novamente me chamou. Entrei em outra salinha, onde havia diversos aparelhos.
– Por favor, tire a camisa e deite-se nesta maca.
Eu me deitei de costas e a moça colou umas sanguessugas de borracha em meu peito e nos braços. Era um eletro.
Sem dizer nada, ela me deu uns guardanapos para limpar o creme que melecara meu corpo e abriu a porta para que eu regressasse à sala de espera.
Após mais uma meia dúzia de clientes, a secretária me chamou:
– O senhor pode entrar.
Finalmente. Entrei na sala ampla, com ar condicionado; na parede, dois quadros modernistas, daqueles que não se entende, mas são bonitos.
Dr. Carranza, apesar do nome, era um cara simpático. Levantou-se, me cumprimentou gentilmente e me fez sentar numa maca no canto da sala. Auscultou meu peito, comprimiu com os dedos meu estômago. Depois, pegou um martelinho e deu um golpe seco no ossinho de meu joelho, minha perna saltou feito uma rã. Em seguida me pediu para sentar na poltrona diante de sua mesa e perguntou:
– Você tem dormido bem?
– Sim, otimamente.
– Tem evacuado com frequência?
– Como?
– Tem feito cocô direitinho?
– Sim, doutor, mas eu não...
– Não se preocupe, você não tem nada grave. Vai viver ainda uns cem anos – gracejou.
– Mas eu...
– Não diga nada. O médico aqui sou eu ou é você?
Depois puxou seu bloco de receitas e garatujou rapidamente algumas palavras.
– Pronto. Siga isso direitinho e volte daqui a trinta dias.
Agradeci ao bom doutor, paguei a consulta e os exames à secretária e sai com a receita em mãos.
Como são as coisas: e eu que tinha ido ali apenas para lhe entregar um carnê da loja em que trabalho.