De uns anos para cá ficou difícil educar os filhos. Os que já estão criados, tudo bem. O problema são os mais novos.
Quando não está frequentando baladas, o garoto passa o dia entre a internet e a academia.
– Pra que tanta academia?
– Pra poder ficar trincado.
Lido com palavras todos os dias, mas essa concepção eu não conhecia.
– E o que quer dizer isso, é uma palavra nova?
– Trincado é o cara de corpo definido, com massa muscular, barriga tanquinho.
– E pra que isso? Os grandes sedutores do cinema não tinham nada disso, tinham corpo normal como todo mundo. Veja o Tony Curtis, o Gary Cooper, o Harrison Ford. O Clark Gable era até meio gordinho.
– E quem é essa velharia?
Bom, pelo menos frequentando a academia, descola um pouco as nádegas da cadeira defronte da internet. Mas o pior são os estudos. Nesse vai-vem ninguém o vê pegando num livro ou abrindo um caderno.
– Você não vai estudar?
– Não. Eu tenho o ouvido bom, basta escutar o que o professor fala.
– Engano seu, isso não basta. Tem que fazer leituras, pesquisar, aprofundar os temas das aulas. Você não quer ser alguém na vida? Quer ficar trabalhando de operário? (Isso é o que os pais da gente diziam sempre).
– E pra ser alguém precisa estudar? Que estudo que o Lula tem? E o Ronaldinho, o Neymar...
Fica ruim discutir com tais argumentos. Mudo de assunto antes que ele também se lembre do Tiririca.
Mas isso não é tudo. Antigamente, tínhamos como modelo os heróis dos gibis e do cinema. Heróis honestos, incorruptíveis, que perseguiam ladrões e assassinos e os colocavam na cadeia. Ninguém queria pertencer ao time dos bandidos. Naquele tempo, o crime não compensava. Os desonestos acabavam sempre atrás das grades.
Hoje, quais são os modelos apresentados à juventude? Os caras que não estudaram e viraram celebridades. As moças que permanecem algumas semanas encerradas na “gaiola de ouro” do BBB e dali saem para fazer um “ensaio erótico” para alguma revista. A popozuda que namora um jogador famoso ou um cantor de pagode. O político ou empresário que enriqueceu da noite pro dia, à base de corrupção, enganos e superfaturamentos. O poderoso chefe do tráfico de drogas.
Atualmente, por certo, os antigos heróis não seriam os mesmos. Para acompanhar a “modernidade”, o Fantasma seria um explorador dos pigmeus que o acolheram; Tarzan cobraria pedágio aos que entrassem em sua floresta; Mandrake, num passe de mágica, faria desaparecer verbas públicas; e o Flash Gordon venderia ao governo foguetes interplanetários superfaturados.