Misto de ateliê e museu, a casa no bairro Bucarein, em Joinville, abriga um volume enorme de peças
colecionadas ao longo dos anos, transformadas também em fonte inesgotável de inspiração
De fora, um caprichado jardim com grama e flores, não muito diferente das demais casas da pacata rua Calixto Zatar, no bairro Bucarein, em Joinville. Não há placas e nem as grades das janelas deixam escapar o seu interior. Nenhum sinal externo que denuncie o mundo fantástico que abriga o sobrado bege número 107.
Os primeiros cômodos da casa da artista Sonia Rosa, 64 anos, não têm sofá com televisão à frente, nem mesa de jantar com aparador. Há, sim, mobílias, mas com a função de apararem brinquedos, num volume que torna todo o primeiro piso do sobrado um cenário pitoresco. Tem sido assim desde que a joinvilense começou a colecionar compulsivamente peças que remetem à infância, vindas de doações, presenteadas ou encontradas em lugares de descarte.
Para os três netos de Sonia e as turmas de escolas que ela recebe, a casa é um portal para a diversão fora das telas do virtual. Para ela, o lugar é também seu ateliê e fonte de inspiração para todos os seus trabalhos artísticos.
– Cada brinquedo vem para mim com uma história por trás. Seja ela de quem está me doando, ou de quando ele é encontrado. É incrível como o brinquedo sempre remete a uma memória afetiva.
Os brinquedos viram esculturas, são modelos para quadros e partes deles são unidas e ganham outros formatos. Os trabalhos, muitos deles expostos nas mais de 20 exposições coletivas e individuais da artista, convivem em harmonia no espaço junto à coleção. Atualmente, Sonia se dedica a fotografar e passar para as telas fragmentos de um grande conglomerado de mais de 60 quilos de brinquedos comprimidos, obra iniciada em 2012 e em constante transformação.
A produção da artista admiradora de Wassly Kandisky e Niki de Saint Phalle nem sempre teve a temática da infância. Sonia teve seu primeiro contato com as artes aos 14 anos e foi uma das alunas do habilidoso Hamilton Machado, professor da Casa da Cultura. Mas grande parte dos 50 anos de arte que ela completa em 2018 foi de busca por uma assinatura particular. O encontro definitivo com sua poética ocorreu em 2002, história que ela conta na autobiografia “Brincalhotices”, publicada em 2013.
– O fato de meus filhos terem crescido e eu ter podido me dedicar mais à arte também contribuiu para este encontro.
Quando Sonia não está criando, seu lar, e de mais de centenas de brinquedos, está de portas abertas para visitantes que querem viajar no tempo, seja ele de 50 ou cinco anos atrás. Há brinquedos para todas as gerações satisfazerem o prazer de reencontrar a sua criança interior. Quem quiser marcar uma visita pode entrar em contato pelo e-mail ssoniarosa@hotmail.com ou pelo (47) 99126-9417.
Texto e foto: Rafaela Mazzaro / https://www.orelhada.com