segunda-feira, 4 de março de 2019

Silêncio, por favor: ausência de barulho pode turbinar o cérebro e a criatividade

Vivemos cercados de som e barulho, mas o que acontece quando nos deparamos com o verdadeiro silêncio?

O barulho do trânsito, sirenes estridentes, vozes altas, alertas de mídia social - tudo pode ser avassalador na vida de alguém, mas ainda assim a ausência de som tem sido associada à solidão, ao tédio ou à tristeza. "Vivemos na era do barulho. O silêncio está quase extinto", afirma o filósofo e aventureiro Erling Kagge. E ele diz isso com propriedade: Erling explorou o poder do silêncio e tornou-se a primeira pessoa a alcançar os "três polos" do norte, sul e o cume do Everest. Mas por que precisamos de silêncio, como o perdemos e onde poderíamos encontrá-lo novamente? 

O silêncio nos dá espaço para pensar

O silêncio é "uma chave para desbloquear novas formas de pensar", diz Erling, e a ciência apoia a teoria do filósofo. Mesmo sem o estímulo do som, nossos cérebros permanecem ativos e dinâmicos. Um estudo de 2001 realizado por neurocientistas da Universidade de Washington descobriu que havia uma função cerebral "modo padrão": eles concluíram que um cérebro "em repouso" ainda estava em ação, constantemente absorvendo e avaliando informações. Pesquisas subsequentes mostraram que esse "modo padrão" também nos ajuda a refletir. O artigo Frontiers in Human Neuroscience, de 2013, afirma que, mesmo quando o cérebro repousa, ainda é capaz de processar informações no que eles chamam de "espaço de trabalho consciente". Silêncio e descanso podem ser a chave para o nosso melhor pensamento criativo e nossas maiores ideias.

O silêncio é uma ferramenta poderosa de conversação

Na conversa ou no debate, é fácil esquecer o poder do silêncio - mas ficar quieto pode ser uma ferramenta muito eficaz, e é uma opção que todos temos à disposição. Ao fazer uma pausa, você pode falar com mais calma e sabedoria: o silêncio pode ser o espaço entre uma explosão inútil de sentimento e uma resposta ponderada. Isso também mostra confiança em um argumento. "Nada fortalece mais a autoridade do que o silêncio", afirmou Leonardo da Vinci. Mas, além de nos ajudar a derrotar um adversário, ele pode nos ajudar a fortalecer nossos relacionamentos. Ao ficar em silêncio, você está naturalmente ouvindo mais e dando aos outros a oportunidade de compartilhar.

O silêncio pode realmente ajudar nossos cérebros a crescerem

Em 2013, a bióloga Imke Kirste estava testando os efeitos do som nos cérebros dos ratos. Os resultados foram surpreendentes: os sons não tiveram impacto duradouro, mas duas horas de silêncio por dia estimularam o desenvolvimento celular no hipocampo - a parte do cérebro que ajuda a formar as memórias. Não era o som em si, mas a própria ausência que criava novas células no cérebro dos ratos. Embora o crescimento de novas células cerebrais não tivesse necessariamente benefícios para a saúde, essas células pareciam se tornar neurônios funcionais. Se uma ligação entre o silêncio e a geração de neurônios puder ser estabelecida em humanos também, há uma chance de que o silêncio possa ser usado para ajudar pacientes com condições como demência e depressão.

O silêncio ajuda a aliviar o estresse

A enfermeira britânica Florence Nightingale escreveu que "o ruído desnecessário é a mais cruel ausência de cuidados que pode ser infligida a pessoas doentes". Ela argumentava que todo som desnecessário poderia causar temor, angústia e perda de sono para pacientes em recuperação. A pesquisa moderna apoia os pontos de vista dela elaborados no século 19: foram descobertas correlações entre pressão alta e ruído crônico - como o de estradas e aeroportos. O ruído também pode resultar em níveis elevados de estresse - acredita-se que as ondas sonoras ativam a amígdala, que está associada à formação da memória e à emoção, causando uma liberação de hormônios do estresse. Esse processo pode ocorrer mesmo enquanto dormimos. O silêncio, no entanto, tem o efeito oposto: ajuda a liberar a tensão no cérebro e no corpo. Um estudo publicado na revista Heart descobriu que dois minutos de silêncio podem ser ainda mais calmos do que ouvir música "relaxante".

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-47284076