Se eu pudesse dar só uma informação preciosa para uma mulher que acaba de dar à luz,
seria essa: o bebê chora o que a mãe cala.
Como doula pós-parto, como consultora em amamentação ou como mãe que apoia outras mães, eu sempre vejo isso acontecer. Bebês que choram sem parar, tendo peito ilimitado, tendo sling, tendo mãe em tempo integral, tendo banho de ofurô, tendo música clássica e som do útero no YouTube tocando. Eles choram. Sem parar. Mas não são eles que choram, de verdade. Quem está chorando - por dentro - é a mãe, imersa no caos do puerpério, entre a privação intensa de sono e as dificuldades de amamentar. A mãe cala o choro, e carrega a angústia que dar à luz traz: a responsabilidade eterna de cuidar de outro ser. O fim da mulher que ela conhecia. O nascimento de uma nova mulher que é uma completa desconhecida. Todo o peso que pôr um filho no mundo significa, recai sobre seus ombros. E ela cala. A dor é silenciada, porque quase ninguém compreende verdadeiramente o peso do puerpério. O puerpério é uma água represada, que cedo ou tarde precisa ser liberada. O bebê são as comportas abertas. E essa água vem feito um dilúvio! E o bebê vai chorar. Vai chorar a falta de descanso da mãe. Vai chorar a falta de cumplicidade do marido. Vai chorar a avó que ou se ausenta demais ou se intromete demais. Vai chorar as dificuldades de amamentar. Vai chorar o parto que nem sempre sai como o sonhado. Vai chorar o medo de falhar que a mãe carrega. Vai chorar o corpo que se revela tão disforme. Nunca se diagnosticaram tantos bebês com cólica, com refluxo e com alergias como hoje. Doenças que justificam a mesma coisa: o choro que não cessa. Pode ser que hoje a medicina identifique mais os casos que antes passavam batidos? Pode. Mas eu vejo um outro lado também... Nunca a maternidade foi tão solitária como é hoje. Antes, quando uma mulher dava à luz, sua mãe, avó, tias, vizinhas, todas se encarregavam de cuidar da nova mãe. Cuidar da casa, cuidar da mulher, cuidar de ajudá-la. Hoje não. Parimos (e re-nascemos) e estamos sozinhas. Ninguém lida com nossa bagunça - da casa e da alma. E nossos filhos choram, tudo que nós não temos tempo - enquanto arrumamos o caos externo - para chorar. Me lembro bem, no puerpério do meu segundo filho, quando eu, nervosa, respondi rispidamente alguma coisa que minha mãe perguntou. Minha mãe, sem entender nada, me perguntou o que estava acontecendo... Eu explodi em lágrimas, e gritei enquanto me afastava pela casa: "puerpério, mãe! Simplesmente, puerpério!" E eu chorei. Longos dias. Aceitando e acolhendo minhas sombras. Respeitando as dores que o novo puerpério trazia. Conhecendo a mãe completamente nova que nascera com o segundo filho. E quanto mais eu chorava e falava, mais meu bebê se pacificava. E tudo fluía no curso natural: eu libertava meu filho de chorar minha angústia. E ele sorria, livre de ter que falar o que eu calava. Se seu filho chora, olhe pra você mesma. Olhe para o que dói em você. Pode ser que esse movimento de olhar para dentro cause desconforto. Pode ser que você não consiga se reconhecer. Mas o faça ainda assim. E chore... o sono, a dor, o parto, o medo, o amor. Tudo isso é intenso demais e grande demais. Precisa ser vivido, falado e, também, chorado. Peça colo. Se entregue a abraços. Verbalize a dor. Acolha sua fragilidade. Cuidar de si própria é a primeira forma de amar o seu filho. Só podemos cuidar do outro quando cuidamos de nós.
Bruna Estrela