Certa vez, peguei carona com um amigo para ir a uma consulta médica. Eu sempre utilizava o mesmo roteiro para aquele local. Surpreso, observei que o amigo enveredou pelo caminho mais longo.
– Por que você não vai por aqui? – perguntei. É mais perto.
– Não, prefiro evitar o sinaleiro. Pode ser mais longe, mais é mais fácil.
Eu me calei na hora. Tinha aprendido uma lição. Nossos caminhos não são os únicos. Cada um tem seus caminhos para chegar ao mesmo lugar.
O mesmo acontece quando recebemos conselhos – sem os pedir. Parece que certas pessoas querem que você pense como elas, que aja como elas agiriam; que, como dizem os índios americanos, calce os mesmos mocassins. É como se a pessoa insinuasse que você é ignorante, ingênuo, não dá conta de conduzir sua vida sem a sua orientação.
Nós, pobres mortais, perdemos o Paraíso por causa de um mau conselho. E quem sabe a serpente tivesse tido boas intenções, como todos os “palpiteiros”.
Diz a sabedoria popular que se conselho fosse bom não seria dado de graça. Haveria empresas especializadas em vender conselhos: Bons Conselhos Ltda., Tia Judite Conselhos Matrimoniais, e até mesmo uma organização oficial, Conselhobrás. Jovens iriam abraçar a carreira de “personal adviser”.
Pode até não ser mau, mas, no fundo, quem gosta de receber conselhos? Se, por educação, o aconselhado ouve suas predições, provavelmente na primeira oportunidade irá desabafar: fulano quer me ensinar o que devo fazer. E quem sabe você tenha ganhado mais um inimigo. Quem não se irrita ao ouvir coisas como “você devia...”, “por que você não faz...?”
Mais desagradável é aquele palpiteiro que dá conselhos por tabelinha. É assim: “você devia dizer pro seu marido parar de beber”, “você devia aconselhar seu irmão a procurar serviço”. É como se estivéssemos esperando por esses bons conselhos para dar um jeito na vida dos outros.
Tudo o que fazemos ou deixamos de fazer – nossas opções – um dia mostrarão suas consequências. O que parece bom hoje, poderá tornar-se desastroso no futuro. Quem o aconselhou a comprar ações das empresas do Eike Batista, adquirir imóvel na planta da Encol, votar em determinado partido? Quem a convenceu de que um “pensamento positivo” iria trazer de volta o cara que lhe deu um chute?
Como diz um velho samba-canção: “um conselho é fácil de dar, mas se um dia eu tiver de chorar, ninguém chora por mim”.
Se você errou, é bem melhor errar sozinho do que ter seguido excelentes conselhos de terceiros.
*Crônica publicada no jornal A Gazeta de SBS, em 18/02/2017.