Representante do teatro inglês contemporâneo, a peça “Psicose 4h48″, última obra da dramaturga londrina Sarah Kane (1971-1999), com a montagem da Marcos Damaceno Companhia de Teatro, de Curitiba, traz como protagonista a atriz Rosana Stavis, que interpreta uma mulher angustiada, prestes a acabar com a própria vida. Apresentação gratuita nesta quarta, dia 11 de fevereiro, no Teatro do SESC Joinville.
“Psicose 4h48” fala sobre depressão psicótica e sobre o que acontece com a mente de uma pessoa quando desaparecem por completo as barreiras que distinguem a realidade das diversas formas de imaginação. Sarah Kane usou a estatística que a maioria dos suicídios ocorre antes do alvorecer para criar o título da peça. A doença e os tratamentos psiquiátricos a que a autora se submeteu são matérias-primas do texto – com tradução de Laerte Mello. Permeando entre o dramático, o lírico e o narrativo, expõe a alienação causada por remédios, desejos truncados e vozes que, como um fluxo de consciência, ou de inconsciência, falam sobre memórias e alucinações.
O discurso fragmentado e subjetivo questiona as noções de normalidade. A autora atravessou crises depressivas intensas. Sua doença foi agravada com o término de um relacionamento homossexual, meses antes do suicídio, em 1999. Aos 28 anos, ela se enforcou com os cadarços do tênis, no banheiro do hospital psiquiátrico onde estava internada, em Londres.
Breves perfis:
Rosana Stavis – protagonista
Reconhecida como uma das principais atrizes do teatro brasileiro na atualidade conquistou por seu talento cinco prêmios Governador do Estado do Paraná/Troféu Gralha Azul. Atuou em mais de 60 peças, óperas, filmes e produções televisivas. Entre elas, “Lulu”, de Frank Wedekind, e “A Ópera dos Três Vinténs”, de Bertolt Brecht, dirigidas por Marcelo Marchioro, “Nostalgia” e “A Vida É Cheia de Som e Fúria”, de Felipe Hirsch. Formou-se atriz pela PUC-PR em 1989, ano que conquistou o Troféu Gralha Azul de Atriz Revelação, por sua atuação em “A Vida de Galileu”, de Brecht, sob direção de Celso Nunes e protagonizada por Paulo Autran. Como protagonista de “PSiCOSE 4h48” levou o Troféu Gralha Azul de Melhor Atriz 2004.
Marcos Damaceno – diretor
Paulista, formado em direção teatral pela Faculdade de Artes do Paraná, tem prestigiada carreira como dramaturgo e diretor em Curitiba, onde mora desde a infância. Dentre as peças de sua autoria estão “Pedro Pedrinho Pedreco” (Prêmio Governador do Estado do Paraná/Troféu Gralha Azul de Melhor Autor para Crianças) e “Água Revolta”, que participou com destaque em festivais na França, na Argentina e no Brasil, também publicado na Argentina pelo Inteatro Editorial. Ganhou amplo destaque no cenário teatral brasileiro com encenação de sua peça Árvores Abatidas ou Para Luis Melo.
Marcos Damaceno Companhia de Teatro
Entre os espetáculos do grupo criado em 2003 pelo diretor e dramaturgo Marcos Damaceno e pela atriz Rosana Stavis destacam-se: “Água Revolta” (2003), de Marcos Damaceno (apresentado em 2004 nos festivais de teatro de Picardie, França, e Jovens Dramaturgos, em Córdoba, Argentina), PSICOSE 4h48 (2004), “Sonho de Outono”, do norueguês Jon Fosse, encenado profissionalmente pela primeira vez no Brasil, em 2005, e “Árvores Abatidas ou Para Luis Melo” (2008). O estudo de peças que revelam mais o funcionamento da consciência do que o discurso montado para expressá-lo e o tratamento nas vozes dos atores como elemento principal da encenação são características das produções da companhia.
Sarah Kane – a autora
Suas cinco peças, entre elas “Phaedra’s Love” (1996) e “Cleansed” (1998) discorrem sobre vida, amor e mutilações humanas. “Blasted”, sua estreia como dramaturga em 1995, causou polêmica ao traçar um paralelo entre Londres e Bósnia. O reconhecimento veio com “Crave” (1998), publicada sob o pseudônimo de Marie Kelvendon. Em seus últimos trabalhos, ela apostou em uma dramaturgia abstrata, não-realista, reagindo ao teatro dito político e rompendo as barreiras do realismo inglês. “O teatro não tem memória, o que faz dele uma das artes mais existenciais”, disse em entrevista. Sua última peça “PSICOSE 4h48”, de discurso poético e 50% confessional, foi produzida pela primeira vez no teatro Royal Court, em Londres, em 2000. Seu trabalho mais difundido em todo o mundo conquista diretores, atores e público.