Conta-se que um mestre e seu discípulo peregrinavam em uma região muito pobre e pediram pousada em um humilde casebre. O dono da casa recebeu-os cordialmente e desculpou-se por não poder oferecer mais do que uma xícara de leite. Explicou que toda a sua alimentação dependia de uma magra vaquinha, cujo leite era uma parte consumido e em parte trocado por outros alimentos, na cidade. E assim sobrevivia a família, em uma indizível penúria.
No
dia seguinte, despediu-se o mestre e, ao afastar-se da casa, viu a tal
vaquinha, pastando mansamente, à beira de um barranco. Ordenou ao discípulo:
"Empurre a vaca no barranco".
O
discípulo, mesmo sem entender, obedeceu e a pobre vaquinha estatelou-se, morta,
no fundo do barranco. O mestre deu-se por satisfeito e seguiram a viagem.
Anos
se passaram, sem que o discípulo esquecesse aquela família e se recriminasse
por ter sido, talvez, o carrasco de seu destino.
Um
dia, quando seu mestre já havia morrido, o discípulo voltou àquela região e
procurou o casebre onde morava a família. Encontrou, em seu lugar, uma imensa
casa, ricamente decorada, abençoada com grande fartura. O dono da casa se
tornara um próspero comerciante e seus filhos, já homens feitos, estavam
trabalhando, produtivos, felizes e saudáveis.
Espantado,
o discípulo indagou as causas de tão profunda mudança, ao que o dono da casa
explicou: "Lembra-se da vaquinha que nós tínhamos? Ela caiu do barranco e,
sem ela, nós passamos alguns dias de terrível necessidade e fome. Porém, diante
da miséria, tivemos que buscar soluções alternativas e fomos descobrindo
potenciais de que nem sequer desconfiávamos. Criamos novas possibilidades,
fomos crescendo e o resultado é esse que você vê.
Então,
finalmente, o discípulo entendeu a sabedoria de seu falecido mestre.