"Havia um mestre já velho e pobre, mas ele tinha um lindo cavalo. Os burgueses ofereciam muito dinheiro pelo cavalo, mas o mestre dizia que jamais o venderia. Numa manhã o cavalo tinha sumido. Seu amigo disse: - Sempre tive o receio de que o cavalo seria roubado! Teria sido melhor vendê-lo, que fatalidade. O mestre disse: - Não sei se é bom ou ruim, o tempo dirá. O amigo riu do mestre, sempre soube que ele era um pouco louco. Mas alguns dias se passaram e, de repente, numa noite, o cavalo voltou. Ele não havia sido roubado, ele havia fugido para a floresta e não apenas isso, ele trouxe uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente, o amigo disse: - Você estava certo, é uma benção. O mestre disse: - Você está se adiantando mais uma vez. Apenas diga que o cavalo está de volta. Quem sabe se é uma benção ou não? Desta vez o amigo não podia dizer muito, mas interiormente sabia que ele estava errado, afinal, agora eram doze lindos cavalos. O único filho do mestre começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas uma semana mais tarde ele caiu de um cavalo e fraturou as pernas. O amigo mais uma vez julgou e disse: - Você tinha razão novamente. Foi uma desgraça esses cavalos. Seu único filho fraturou as pernas e na velhice ele era seu único amparo. Agora você está mais pobre do que nunca. O mestre disse: - Não se adiante tanto. Diga apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma benção. A vida vem em fragmentos meu amigo. Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em uma guerra repentina e todos os jovens do local foram forçados a se alistarem. Somente o filho do mestre foi deixado pra trás, pois se recuperava das fraturas. A cidade inteira estava chorando, lamentado-se porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dos jovens jamais voltaria. O amigo veio até o velho mestre e disse: - Você tinha razão, o que aconteceu com seu filho foi uma benção."